segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A história de um Urso

"Historia de un oso", de Gabriel Osorio (2014) Vencedor do Oscar de curta animação, essa brilhante fábula chilena é uma obra-prima. Inspirado na trajetória de seu avô, Leopoldo Osorio, o diretor Gabriel Osorio provoca comoção e encantamento nesse filme tecnicamente formidável. Incrível a animação em si, a edição de som e a trilha sonora. Leopoldo foi preso em 1973 na Ditadura de Pinochet, no Chile, e ficou 2 anos preso. Conseguiu fugir para a Inglaterra e lá, isolado da família, ele permaneceu. O filme fala sobre a memória, sobre as lembranças do cineasta em relação a um avô ausente. O filme narra o cotidiano de um Urso faz-tudo, uma espécie de Gepeto do Pinóquio. Ele mora sozinho, mas guarda a lembrança de sua esposa e filhos, ausentes. O urso vai para a rua ganhar a vida como contador de histórias e ante a curiosidade de um menino, ele metaforicamente conta a sua própria história. A ditadura militar é representada através de domadores de um circo que "prende" animais e os exibem em jaulas. Premiadíssimo em vários Festivais, "A história de um urso" é sem diálogos, e em 10 minutos, conta toda uma história de um povo e de sue Governo autoritário. Obrigatório.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Espelhos do verão

"Miroirs d'eté", de Etienne Desrosiers (2007) Escrito e dirigido por Etienne Desrosiers, "Espelhos do verão" é um curta canadense premiado que fala sobre a saída do armário de um adolescente, interpretado nada mais nada menos por Xavier Dolan. Na época com 15 anos, Dolan, 3 anos depois, viria a explodir mundialmente com o seu longa de estréia, 'Eu matei minha mãe", que arrebatou Cannes. Xavier Dolan interpreta Julian. Nas férias de verão, ele segue com seus pais e seu irmão mais jovem para a casa de praia. Entediado com a vida da família burguesa e careta, Julian se excita em ver o sexo selvagem dos pais. Com os colegas, ele não se socializa, pois só querem saber de namorar garotas. O seu alento é um vizinho músico, que tem um jovem amante poanista. É esse universo que o encanta e o atrai. Belamente filmado e fotografado, "Espelhos do verão" com certeza tem muita influência de "Morte em Veneza", de Visconti. O olhar de encantamento, a poesia, o lúdico, o sabor do brilho das águas e do corpo masculino. Tudo isso é observado com muito vigor por Julian, e a câmera capta cada uma dessas maravilhas. Discreto sem ser panfletário, o filme vale ser visto nem que seja pela curiosidade de se ver Xavier Dolan interpretando sem excessos, como costuma fazer em seus filmes quando interpreta.

A invisível

"Die Unsichtbare", de Christian Schwochow (2011) Obrigatório para Atores e Diretores assistirem, esse contundente drama alemão narra a relação entre uma Atriz emocionalmente instável com um Diretor de teatro tirano, que está encenando uma peça teatral experimental e visceral. Todo mundo vai dizer: "Ah, esse filme já foi feito. Tem o " Cisne negro" e " Whiplash". Ok, mas o primeiro fala sobre o universo da dança e o segundo, da música. Em " A invisivel", existe a discussão pertinente sobre o limite ético entre o que pode ser considerado abusivo ou em favor da Arte. O filme está longe de ser uma obra prima, mesmo porque seu roteiro é polêmico e se encaminha por caminhos que provavelmente Atores mais consagrados não seguiriam. Mas espertamente, o roteiro escrito pelo cineasta e a sua mãe fala do Universo dos estudantes de Teatro, que são aspirantes a um mundo onde tudo parece ser permissivo e em nome da Arte, mas que por trás disso tudo pode se esconder fetiches ou exercícios meramente masoquistas. Josephine( Stine Fisher, extraordinaria na composição da frágil e posterior forte personagem) é estudante de artes dramáticas. Ela é a Invisivel do título, aquela que ninguém percebe a sua presença. Tímida e frágil, ela mora com a sua mãe e a sua irmã Jule, desequilibrada mental. Josephine se angustia todas as vezes que ensaia e que se relaciona com os outros colegas de cena. Ela é a pessoa mais improvável para ser selecionada para qualquer teste. Um diretor famoso, Kaspar, (Ulrich Noethen), resolve montar sua nova peça com estudantes e faz uma audição. Para surpresa de todos, Josephine é escolhida para ser a protagonista. Durante os ensaios, mediante exercícios que extrapolam a ética, fica claro para Josephine que ela foi selecionada por conta de seu diagnóstico de distúrbio mental. O diretor vai cada vez se apropriando mais da memória emotiva e da vivência de Josephine para construir a sua personagem na peça, que se chama Camille, que é o oposto de Josephine. Ela resolve se apropriar da persona de Camille e vai em busca da construção da personagem perambulando pelas ruas vestida como tal. Roteiro inquietante, polêmico, que deveria ser obrigatório para discussão entre grupos de estudantes e artistas. Independente do que o espectador achar do filme, é inegável o talento formidável de todos os atores. Uma em especial me chamou a atenção: Christina Drescler, no dificílimo papel de Jule. A sua composição física é algo de assombroso, a ponto de eu pesquisar no Google se ela é atriz ou portadora real de alguma doença mental. O desfecho vai se encaminhando para um caminho óbvio, mas aí o roteiro habilmente se desvencilha. Chorei no final, como um confirmação de que nada como o Palco para o Artista afirmar que se apropria dele para viver. Stanislawsky ficaria feliz do filme .

Abrase

"Abrase", de Toshadeva Palani (2015) Escrito e dirigido por Toshadeva Palani , esse curta americano de 2015 parece inspirado nos filmes de Terrence Malick. A fotografia cheia de flares, as câmeras lentas, os devaneios e divagações existenciais sobre a vida e o amor em off do narrador. É um filme muito bonito, que narra a rajetória de uma relação entre 2 rapazes: um branco, um negro. O encontro, o romance e o fim. Tudo isso narrado e visto através de memórias. É lúdico e poético, vale assitir. São menos de 8 minutos de puro deleite visual, filmado com muita sensibilidade. O filme foi exibido em inúmeros festivais.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Não se deve pensar

"Faut pas penser", de Raphaël Gressier e Sully Laderman(2014) Curta francês realizado com o propósito de fazer uma denúncia contra a homofobia dentro do próprio lar. Em uma pesquisa, estima-se que 13& dos homossexuais com menos de 20 anos já fizeram alguma tentativa de suicídio por não suportar a pressão do lar ou da escola. O curta, didático mas bem descritivo, narra a amizade entre 2 adolescentes "heteros". Um dos amigos vai passar a tarde na casa do outro amigo e o pai fica fazendo perguntas machistas. O inevitável acontece: os amigos se apaixonam, até que o pai descobre o romance. O curta tem momentos de drama, humor e romance. Simples, dando a sua mensagem em 10 minutos, é um filme que recebeu prêmios pela sua contribuição humanista. Os 2 meninos do filme são ótimos e muito carismáticos. Trilha sonora deliciosa.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Memórias secretas

"Remember", de Atom Egoyan (2015) Excelente drama sobre as consequências do Holocausto na vida de Zev ( Cristopher Plummer), um judeu idoso que mora em um asilo. Portador de Alzheimer, Zev recebe de um amigo judeu no mesmo asilo, Max ( Martin Landhau), uma carta escrita pelo próprio Zev, onde ele descreve o que ele deve fazer assim que sua esposa Ruth falecer. Na carta, o passo a passo para ele ir em busca de um Oficial nazista que ele acredita estar vivo e que teria matado sua família. Zev foge do asilo e empreende uma busca implacável ao nazista sobrevivente, usando a carta para lembrá-alo de sua missão, sempre que se esquecer por conta de sua doença. Usando habilmente o mote de "Amnésia", de Cristopher Nolan, mesclado a "A caixa de música", de Costa Gravas, Atom Egoyan retoma a sua força de início de carreira, uma vez que seus últimos filmes fracassaram em qualidade. Aqui, apoiado nesse roteiro extraordinário e surpreendente de Benjamin August, Egoyan dirige com muita classe e provocando uma tensão crescente, até um final de fato inusitado. Cristopher Plummer está formidável com um difícil papel de vários tons. Martin Landau imprime força ao seu personagem Max, que aparece pouco, mas que é de fundamental importância para a trajetória do herói. Imperdível.

Pink moon

"Pink moon", de Sal Bardo (2015) Instigante fantasia futurista, ambientada em um futuro distópico aonde a sociedade é formada por casais homossexuais e onde os heteros são perseguidos e o aborto, proibido. Nesse contexto, Ben e Emily, adolescentes, precisam esconder da família e dos namorados a condição de heteros. Premiado e exibido em mais de 50 Festivais internacionais, o mais recente curta do festejado cineasta Sal Bardo, dos excelentes "Sam" e "Chaser", mais uma vez provoca e polemiza a homossexualidade e a sua aceitação pela sociedade. Só que agora, Sal produz um efeito bem controverso: tem quem não tenha curtido o fato dos gays no filme serem os vilões da história: são violentos, brutos e punem os heteros. Independente do ponto de vista de quem vê o filme, ele é bem dirigido e bem interpretado pelos jovens atores. Vale ser visto e com certeza, provocar discussão em rodinhas de amigos.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

The strange ones

"The strange ones", de Christopher Radcliff e Lauren Wolkstein (2011) Curta extraordinário, premiadíssimo em vários Festivais. Um verdadeiro exercício de gênero ( suspense psicológico) que se baseia somente em atmosfera, 3 ótimos atores e diálogos instigantes. Nada além disso. Nada de grande orçamento, nada de câmera mirabolante. É um filme de simples exeução, mas de grande resultado dramático. Um rapaz e um garoto caminham na estrada após o carro quebrar. Chegando em um Motel, os 2 são recebidos por uma funcionária. Enquanto o mais velho vai buscar um refrigerante, o menino, friamente, diz à mulher que ele está sendo raptado e que o homem é um estuprador. A mulher diz não acreditar na história. Em menos de 14 minutos, os diretores entregam ao espectador uma pequena aula de cinema concisos em um curta metragem. Brilhante.

A floresta maldita

"The forest", de Jason Zada (2016) Filme de terror filmado no Japão, baseado na história real da Montanha Aokigahara. Essa montanha, localizada na base do Monte Fuji, é chamada de "Montanha do suicídio". Ali, idosos, doentes e desfavorecidos eram abandonados em época de fome para morrer. Na lenda japonesa, diz-se que fantasmas habitam a floresta, atormentando turistas que acabam se perdendo e morrem. Pessoas do mundo inteiro viajam até lá para se suicidar. Há um relatório que diz que pelo menos 3 pessoas se suicidam por semana na região. Em 2015, Gus Van Sant realizou o drama "The sea of trees", que concorreu em Cannes, falando do mesmo tema. Sara ( Natalie Dormer, a Margaery Tyrell de "Game of Thrones") tem uma irmã gêmea, Jessie. Na infância, Jessie presenciou o suicídio dos pais, e desde então, tem sido uma mulher atormentada. Sara recebe um telefonema da polícia japonesa dizendo que Jessie foi vista entrando na floresta de Aokigahara e sumiu a dias. Sara pressente que ela está viva e segue até Tokyo para ir em seu paradeiro. Ela entra na floresta com um repórter e com um guia japonês. Mas fantasmas do fantasma surgem para atormentá-la. O argumento sobre a floresta é interessante, mas infelizmente o filme não tem um roteiro que sustente o interesse do espectador as reviravoltas da trama são forçadas, e o desfecho é totalmente atropelado e non sense.A contrução dos personagens também é bobo, provocando uma sensação de que não se pode confiar em ninguém, mas como os personagens não são bem construídos, a gente acaba nem torcendo por ninguém, por total falta de carisma dos personagens. Natalie Dormer faz o que pode, mas o filme não é o veículo que ela poderia esperar para lança-la em grande estilo no Cinema. Suspense baseado em sons estridentes e aqueles fantasmas que surgem do nada. Para quem leva susto à toa, pode até curtir.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O garoto

"O garoto", de Craig William Macneill (2015) Em 2012, o diretor Craig William Macneill dirigiu um curta, "Henley", selecionado para o Festival de Sundance, baseado em um conto do livro "Miss corpus". O curta fez sucesso, e acabou virando um longa-metragem de terror psicológico. John ( David Morse), é dono de um Motel de estrada. Falido e sem clientela, John mora sozinho com o seu filho de 9 anos, Ted ( Jared Breeze). Solitários, o pai vive de bebedeira, o filho vaga pela região. Um dia, um acidente provocado pelo menino faz com que o acidentado se hospede no Motel. A partir daí, estranhos acontecimentos passam a acontecer. Esse filme tinha tudo para virar um cult: tem ótima e aterrorizante trilha sonora, revisita o terror dos anos 80 ( se passa em 89), tem excelentes atores e uma fotografia deslumbrante. Aonde que pecou? Na duração do filme e no desfecho muito semelhante a "Carrie". TiveFaltou ritmo ao filme. Tivesse 20 minutos a menos, o filme se concentraria apenas na história, e não em momentos entediantes onde nada acontece, apenas para dar atmosfera. A idéia do Cineasta é que a história se torne uma trilogia, onde o rotagonista, Ted, tenha 9, 13 e 18 anos. Os filmes seguintes podem vir a ser mais instigantes. Aqui, digamos assim, fica um embrião do que pode ser a gênese do nascimento de um Serial Killer.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Sam

"Sam", de Sal Bardo (2012) Premiadíssimo curta do americano Sal Bardo, que realizou em 2014 o polêmico "Chaser". "Sam" é lúdico e poético, e lembra bastante o cult francês "Minha vida em cor de rosa". Uma menina de 8 anos, Sam, sofre bullying na escola e apanha por se vestir como um menino. Voltando para casa, ela tira o seu vestido da mochila e o veste. No entanto, ela se perde na floresta e acaba sendo um momento de reflexão para ela se ela deve ou não aceitar as agressões recebidas na escola ou se assume com a sua verdadeira identidade sexual, sem conflitos. É incrível o trabalho dessa menina Ever PrishKulnik. Tão pequena e é uma verdadeira força da natureza. Dramática, séria, firme, e isso tudo sem ela dizer uma única palavra ao longo de 10 minutos de filmes. Bela direção e trilha sonora. Link para assistir https://www.youtube.com/watch?v=YQiN2MYEzSg

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Balance

"Balance", de Aaron Rookus (2013) 2a parte de uma série de curtas iniciado com 'Wednesdays", e que mostram os mesmos personagens. No 1o filme, mostrávamos a relação de abuso exual entre Kris, 8 anos, e seu acompanhante, Willen, de 28 anos, que o seviciava toda a vez que o levava para a aula de natação. Agora, 12 anos depois, Kris está com 20 anos. O filme mostra a relação de abuso sexual entre 3 núcleos diferentes: Uma juíza e seu namorado, Willen na corte do tribunal, acusado de abusar Kris por vários anos e o próprio Kris, que paga uma prostituta e acaba fazendo com ela o mesmo jogo de sedução que Willen fazia com ele quando tinha 8 anos. O cruzamento das histórias é muito bem desenvolvida pelo roteiro escrito por Aaron Rookus, e o refinamento técnico continua surpreendendo: fotografia, câmera, atmosfera, tudo funciona perfeitamente. Definitivamente, aguardo ansiosamente pelo 1o longa desse Cineasta holandês, premiado em vários festivais com os seus curtas fortes e instigantes. Link para assistir https://www.youtube.com/watch?v=5NVwGSdboA4

Wednesdays

"Wednesdays", de Aaron Rookus (2011) 1a parte de uma dupla de curtas sobre abuso sexual contra menores. Premiado em vários Festivais, esse filme holandês é um soco no estômago, brilhantemente interpretado pelo menino Tyn Hageman. Ele é Kris, um menino de 8 anos que toda a 4a feira, é levado por um acompanhante, Willen, de 28 anos, até um piscina para fazer aula de natação. Dessa vez, porém, Willen tentará abusar Kris sexualmente. Direção brilhante, trabalho de câmera suave e sofisticado, ótimo clima. Um filme de menos de 9 minutos, mas que passa uma tensão e uma compreensão sobre o Universo cruel da pedofilia. O cineasta e roteirista Aaron Rookus, faz uso de um minimalismo narrativo muito bom. 2 anos depois, ele viria a realizar a sequência de "Wednesday", intitulado "BAlance", mostrando Kris e Willen 12 anos depois. Link para assistir "Wednesdays" https://www.youtube.com/watch?v=NeK9oUeNYAk

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Musca

"Musca", de Stefan Parker (2014) Excelente e premiadíssimo curta de apenas 4 minutos, é uma criativa e inteligente fábula fantasiosa sobre um homem que percebe que a mosca que está pousando na sua mesa é na verdade, mais do que uma mosca. Excelente decupagem, criando um clima de diversão e muito humor negro. Ótimos efeitos, bela direção e um Ator maravilhoso (Robert Fletcher). Vale assistir e aprender que para realizar um curta,basta ter uma ótima idéia, independente de sua duração. Segue o LInk https://vimeo.com/113447354

Spasibo

"Spasibo", de Anais Sartini (2012) Em 2012, a Cineasta francesa Anais Sartini foi até San Petesburgo, na Rússia, para participar de um Festival de cinema, onde o seu curta "Between the bodies" estava participando. Qual não foi a sua surpresa, quando descobriu que o filme foi censurado e proibido de ser exibido. Chocada, ela resolveu dar o troco e expôr esse absurdo para o mundo realizando um curta: "Spasibo" é a resposta. Spasibo, em russo, significa "Obrigado". No dia 7 de março de 2012, o Governo russo emitiu uma lei, estendida para todo o País, onde qualquer propaganda que tivesse o homossexualismo como tema estaria proibido de ser veiculado. No filme, ficção mas trabalhado em formato documental, um ator francês, Clement, vai até San Petersburgh para participar de um Fetsival de cinema. Chegando lá, ele descobre algo muito estranho: ninguém o vê, ninguém o ouve. Ele não existe para os locais. No entanto, ele é visto por um morador da região, que é homossexual. Esse morador explica para o Clement sobre o ocorrido, e que ele mesmo já se acostumou em ser alguém invisível. Dirigido com muita sensibilidade, 'Spasibo" ganhou vários prêmios Internacionais, ente eles, Melhor filme em um Festival de direitos humanos na França. Usar o elemento fantástico talvez tenha sido a melhor opção da cineasta, pois provoca uma interrogação no espectador, sem se tornar extremamente didático. Um belo trabalho sem dúvida, que merece respeito e que consiga ser divulgado o máximo possível para expôr a censura existente na Russia.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

The survivalist

"The survivalist", de Stephen Fingleton (2015) Vencedor de vários prêmios internacionais, incluindo em Tribeca, esse filme de estréia do cineasta e roteirista Stephen Fingleton é uma fábula futurista sobre sovrevvência em um mundo apocalíptico. Sim, pela enésima vez, o tema do Mundo distópico. A diferença aqui, é que o filme praticamente acontece inteiro dentro de uma floresta, e não na selva de pedra futurista. Um homem mora sozinho em uma cabana, e para sobreviver, ele cultiva uma horta. Todo mundo que tenta invadir o seu espaço, ele mata. Até que um dia, duas mulheres aparecem: uma mais idosa, outra jovem, mãe e filha. As mulheres pedem comida, o homem nega. A mais idosa então oferece sua filha como moeda de troca. O homem aceita, e partir daí, nesse jogo de sobrevivência, fica a dúvida sobre as reais intenções das pessoa. Com praticamente 3 atores em cena, o filme é mais um drama do que um filme de ação, se bem que faltando uns 20 minutos no final o filme muda o rumo inesperadamente. Ótimos atores atuando com pouca fala, essa produção inglesa não deve agradar a todo mundo que busca um filme fantástico ou de ação, por conta de seu ritmo extremamente lento e pelo predomínio do drama. Li em alguma matéria a comparação desse filme com "Mad Max", absolutamente nada a ver. Tem um plano que tecnicamente me chamou a atenção: quando o homem busca o paradeiro da jovem, e a câmera faz um vôo de grua e a revela escondida em um lugar no mato, acuada. Muito bom.

Moonwalkers

Moonwalkers", de Antoine Bardou-Jacquet (2015) É pública e notória a Lenda urbana sobre a autenticidade das imagens dos primeiros homens na lua no final dos anos 60. Há quem diga que essas imagens foram filmadas por Stanley Kubrick. Kubrick teria sido convidado secretamente pela Cia , por conta do sucesso de "2001". O motivo da farsa? Havia uma corrida especial na época, e os Estados Unidos não queria em hipótese alguma perder a primeira pisada na lua para os russos. Temendo que a missão da Apollo 11 falhasse, a Cia encomendou essa filmagem sem que ninguém tomasse conhecimento. Com um tema maravilhoso desses nas mãos, o roteirista Dean Craig, da comédia "Morte no funeral", e o diretor francês Antoine Bardou-Jacquet tinham tudo para realizar um cult imediato. Mas infelizmente, não foi o que aconteceu. O filme, que pretendia ser uma comédia de humor negro, se atropela e erra tremendamente na dose. Existem elementos de filme de terror, de Tarantino, de Guy Ritchie e de Peter Sellers em "Um convidado bem trapalhão". A mistura não foi boa. O filme é sem ritmo para uma comédia, sem suspense para o terror e sem adrenalina para a ação. Ron Pearlman interpreta Kidman, um agente da Cia traumatizado pelos fantasmas da Guerra do Vietnã, para onde foi enviado e agora está de volta. Aonde ele olha, ele vê mortos vivos. Rupert Grint, o Ron de "Harry Potter", tenta se encontrar no humor no papel de Jonny, um empresário fracassado de uma banda vagabunda de rock. Os caminhos dele se cruzam quando Kidman é enviado pela Cia para Londres, para convidar Kubrick para a filmagem., Por uma confusão, Jonny, sabendo do dinheiro envolvido, maquia seu amigo hipponga e drogado Leon para se fazer passar por Kubrick. Acreditando na farsa, Kidamn encomenda para ele p filme. No caminho deles, vão se cruzar gangsters, cineastas malucos e autorais estilo Andy Warhol e agentes assassinos da Cia. Raramente se ri no filme. Fiquei realmente triste do filme não poder ter sido divertido, pois realmente o mote tinha tudo para ser hilário. Mas a falta de carisma do elenco, em peso, não seduz o espectador. Os créditos iniciais, em animação, são o que há de melhor no filme. as cenas de ação, por conta da violência explícita, acaba divertindo, se bem que nada tem a ver com o clima de comédia que estava tendo desde então. Ou alguém acha divertido uma cabeça estourando em câmera lenta, jogando vísceras para tudo o que é canto? A direção de arte e a maquiagem/cabelo vão no que há de mais clichê da época do Swinging London. Parece que estamos assistindo a um dos episódios de "Austin Powers", que por sinal, é muito mais divertido.

Apocalipse

"Extinction", de Miguel Ángel Vivas (2015) Ok, mais um filme sobre um futuro apocalíptico dominado por zumbis. Os produtores acham que após o mega sucesso de "The Walking dead", ainda há espaço para os mortos vivos no cinema. Sendo assim, a gente assiste, Gostar ou não, é outra coisa. Aqui, o cineasta espanhol Miguel Ángel Vivas convoca astros de seriados americanos, Matthew Fox, de "Lost", e Jeffrey Donovan de "Fargo", para protagonizarem uma história de violência e ódio. Patrick ( Fix) e Jack ( Donovan) são sobreviventes de um ataque zumbi. Além dos 2, 1 mulher 1 sua filha sobrevivem. Passam-se 9 anos, a menina cresceu e os 2 homens vivem em lados diferentes de uma rua, cercados por uma cerca, em um inverno rigoroso. Os zumbis, aparentemente extintos, não são mais ameaça. Os 2 homens se tornaram rivais por conta de uma tragédia que se abateu. Jack cuida de Lu, a menina agora com 9 anos. Logo, descobrem que os zumbis evoluíram e se tornaram mais ágeis. Eles precisam resolver suas diferenças para poder sobreviver. O filme lembra bastante o mote de " Eu sou a lenda". No filme, Will Smith tinha um cachorro e ouvia pelo rádio a existência de uma comunidade que sobreviveu ao ataque zumbi e pretende ir até lá. Aqui em "Apocalipse", a idéia é a mesma. O que diferencia esse filme dos outros é a carga dramática que ocupa metade do filme ( aliás, longo demais, parece interminável). Na primeira parte, o filme se atém à rivalidade dos homens, e somente na 2a, vai atender aos anseios da galera que deseja sangue e tripas, e mesmo assim, quase nada, pois são poucos sobreviventes para serem devorados. Para quem deseja um filme de terror, o filme tem pouco a oferecer. Quem busca uma fantasia dramatizada, vai curtir mais. Destaque para a menina Quinn McColgan , no papel de Lu. Talentosa e na medida, sem histeria de garota querendo ser adulta.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Orgulho e preconceito e zumbis

"Love and prejudice and zombies", de Burr Steers (2016) Adaptação do best seller Mashup de Seth Grahame-Smith publicado em 2009, que por sua vez é uma sátira ao clássico de Jane Austen, "Orgulho e preconceito". O tempo todo fiquei me lembrando do filme "Cowboys e aliens" e pensando em tudo o que deu errado naquele mix de faroeste e ficção científica protagonizada por Harrison Ford e Daniel Craig. Simplesmente, falta liga a essa história bizarra ambientada na Inglaterra do Séc 19. Assolada por uma doença que transforma humanos em zumbis, a população precisa saber se proteger. As famílias ricas enviam seus filhos para o Japão para aprender a lutar com espadas, e as famílias mais pobres, enviam os filhos para a China, onde o que importa é a sabedoria. Assim, vamos acompanhando a estrutura social e econômica de várias famílias, entre elas, os Bennet. Essa família possui 5 lindas filhas, todas guerreiras e ases na espada e artes marciais. Um dia, o exterminador de zumbis Mr Darcy ( Sam Riley) surge com a missão de matar zumbis. Ele é apresentado a Elisabeth Bennet ( Lily James, a "Cinderela" de Kenneth Branagh), uma das filhas. Ele é arrogante e ela o abomina. Pelas tradições da época, as filhas precisam se casar jovem. Uma das irmãs, Jane, se apaixona por um outro rapaz, Mr Bingley. Todos juntos precisam lutar contra os revezes do amor e entre um olhar 45 e outro, vão matando os zumbis. Lena Headey faz um personagem bizarro, uma matadora de zumbis. Mas ela definitivamente não é o foco, e nem faz diferença. O que importa de fato, é que o filme não empolga em momento algum. Os efeitos são meio toscos, e de verdade, depois do seriado "The walking dead", fica difícil aceitar qualquer filme de zumbis que ofereça menos que os efeitos do seriado de tevê, léguas à frente desse filme. Os personagens, mesmo que fiéis ao livro original de Jane Austen, .padecem de carisma e de alma, algo que existia na versão para o cinema de Joe Wright, com Keira Knightley. Eu queria muito ter gostado desse filme, mas nada me prendeu, nem mesmo o talentoso ator Sam Riley, que interpretou Ian Curtis em 'Control" e "o corvo em "Malévola"consegue sustentar o filme. Acho difícil que o público adolescente que vá querer ver um filme de terror se apegue a esse, pois lhe falta mais ação, e que o público que queira um romance clássico fique interessado em sangue e tripas.

Chaser

"Chaser", de Sal Bardo (2013) Intenso e dramático curta-metragem, que pegou carona na moda dos "Barebacking" parties que fazem sucesso mundo afora. Barebacking é o ao de praticar ato sexual sem o uso de camisinhas. No caso das barebacking parties, existe o agravante de que muitos participantes da orgia são HIV positivos, e pior, muitos dos que frequentam as festas, soronegativos, vão justamente para serem infectados. Aos que querem ser infectados, a gíria é : "Bug chaser". Os que estão infectados e que contaminam os outros soronegativos, chamamos de "Gift giver". Zach é um jovem professor judeu de classe média alta. Porém ele é alienado de sua cultura, não se sente dentro do conformismo e dos padrões rígidos de sua cultura. O seu irmão é casado com uma judia, e por isso, o queridinho dos pais. Zach se sente um desajustado, apesar de inteligente e bonito, e frequenta essas barebacking parties com a finalidade de se contaminar. O tema é polêmico, e a mensagem, a mais destrutiva e pessimista possível. Mas é um belo drama sobre inconformismo e sobre a depressão na cidade grande. O ator Max Rhyser, no papel de Zack, ajudou a escrever e produzir o filme. Não é um filme que se recomende, pelo alto teor erótico e pelo tema que com certeza pode desagradar muita gente. Um tema para no novo milênio.

O abraço da serpente

"El abrazo de la serpiente", de Ciro Guerra (2015) Vencedor da Quinzena dos realizadores em cannes, "O abraço da serpente"são pelo menos uns 10 filmes ali embutidos. Não que isso seja um demérito, mesmo porquê não existem mais filmes originais. Mas mostra um apuro cinematográfico e cinéfilo de um Cineasta que trabalha em um País onde a produção de cinema ainda é bem escassa, e mesmo assim, consegue realizar um filme a um passo de ser uma obra-prima. "A árvore da vida", "A missão", "Apocalipse now", "2001", "Tio Bonmee", "Fitzcarraldo", "Viagens alucinantes", enfim, vale tudo nesse "Boat movie" em preto e branco e que se passa em duas épocas distintas: Início do Séx XX e depois por volta da 2a Guerra, 1940. A costura das duas épocas vem através da figura do índio Karamakate. Solitário, ele mora na floresta após o seu povo ser dizimado pelos colombianos. Um dia, surge um índio civilizado que lhe traz um alemão, pedindo para que Karamakate o cure com a planta rara Yakruna, que dizem, cura tudo. O alemão é o biólogo Theodor Grunberg, que está doente. Juntos, o trio segue em busca da planta secreta. Paralelo, o filme avança 40 anos, e o mesmo Karamakate é visitado pelo americano Richard Schultes, que é um botânico que possui o manuscrito de Theodor e que pretende seguir o caminho que ele fez para obter a Yakruna. Para isso, ele pede ajuda a Karamakate, dizendo que apenas a planta pode fazê-lo sonhar. Baseado nos relatos reais dos 2 expedicionários, o roteiro trabalha de forma extraordinária o real e o metafórico. Fala-se de muita coisa: missão cristã e a influência sobre os índios, a perda da identidade cultural, a colonização, a morte dos índios pelos colombianos. a crença na religião, espiritismo e falsos Messias. É um filme muito rico, complexo, cheio de simbolismos. Talvez seja necessário se assistir pelo menos duas vezes ao filme para poder absorver tanta informação. Visualmente, é um escândalo, filmado em preto e branco e em locações na Amazônia totalmente inóspita. Muitas cenas antológicas, entre elas, a da pregação do falso Messias, e claro, o desfecho, que com certeza irá me tirar o sono por vários dias. Trabalho incrível do elenco, misturando profissionais e amadores. Obrigatóriio.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

It's consuming me

"It's consuming me", de Kai Stanicke (2012) Premiadíssimo curta alemão, uma Aula de como realizar uma boa idéia em pouco tempo. Com apenas 3 minutos de filme, o cineasta Kai Stanicke passa concisão e dinâmica em um ritmo muito acelerado, porém instigante. Provavelmente influenciado por "Corra Lola Corra", que inclusive aparece em um momento rápido de uma tela de tv, tem como narrativa a história de um jovem indeciso entre ligar ou não para o seu namorado. Flashes e angústias passam rápido pela sua mente. Super bem editado e com excelente trilha sonora, é um filme vibrante e tecnicamente inventivo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Sigueme

"Sigueme", de Alejandro Duran (2011) Premiado curta espanhol de Alejandro Duran, narra o dilema de um homem apaixonado pela sua namorada, mas que por um golpe de destino, tem a sua vida transformada para sempre. Toda tarde, Ruben vai com sua bicicleta fazer o seu passeio na beira da praia. Um dia, ele resolve parar para ler um livro. Paco também usa essa mesma praia para fazer o seu jogging diário. Até que seus olhares se cruzam, e eles transam atrás das pedras. Julia, mulher de Ruben, percebe que algo está diferente no marido. Belo e sensível drama, bem interpretado, com ares de novelão, mas ainda assim, interessante e ousado, principalmente em seu desfecho. Bela locação e bela trilha sonora. Para corações apaixonados. Direção segura em um filme de roteiro e edição enxutos.

Eu me lembro

"Eu me lembro", de Edgard Navarro (2005) Vencedor de 6 Prêmios no Festival de Brasilia em 2005 ( Filme, Diretor, Ator, Atriz, Atriz coadjuvante e roteiro), "Eu me lembro"pega emprestado o mote de "Amarcord" de Fellini e faz um relato nostálgico de Guiga, alter-ego do cineasta Edgard Navarro. Nascido em Salvador em 1949, Navarro/Guiga mostra a sua relação conflituosa com o seu pai, carrancudo e violento, e de sua submissa e passiva mãe, sempre carinhosa, mas levando broncas sem fim do marido, que vive ameaçando a esposa. Acompanhando a trajetória do personagem dos anos 50 ao 70, passando pela ditadura, descoberta do ofício do Cinema , seus amores, paixões e envolvimento com o Movimento Hippie, é um filme ambicioso, que tem momentos muito lúdicos e poéticos, e outros, fica na tentativa de expor um Brasil ideal. A primeira parte do filme, que acompanha Guiga até sua adolescência, é a melhor. Talvez por flertar com a inocência de uma criança que descobre o sexo, seja mais divertido e mais cativante para o espectador. Edgard Navarro sempre foi ousado, e aqui ele não pouca nem o ator mirim, que aparece se masturbando e de pênis ereto. Talvez haja um exagero nessa visão sexualizada do menino do interior, mas não deixa de ser engraçado. E é também onde aparece a figura da mãe, brilhantemente interpretada por Arly Arnaud. Fiquei curioso pela filmografia de Edgard Navarro desde os seus bizarros curtas, em espacial "Super outro" e "O rei do cagaço". Em "O rei do cagaço", Navarro aparece em carne e osso defecando em lugares públicos de Salvador, sem cortes. O filme serviu como um manifesto e foi um verdadeiro escândalo. Impossível não deixar ficar arrebatado por tamanha ousadia. Infelizmente, 'Eu me lembro"fia no meio do caminho. A sua segunda parte fica didática. menos interessante e com uma visão um pouco caricata do que seria o Movimento hippie. No final, é um filme curioso dentro da filmografia nacional: narrado em voz nostálgica pelo próprio Cineasta, vale pelo olhar matuto e malicioso sobre a vida de um Artista desde a sua infância até a fase adulta.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Rainha do deserto

"Queen of the desert", de Werner Herzog (2015) O que acontece quando um dos diretores que você mais apreciou pela sua filmografia, famoso pela anarquia, ousadia e loucura, se adequa ao esquema do cinemão épico Holllywoodiano? Podíamos comemorar a diversidade desse Cineasta, que passeasse tão bem entre o "Mainstream" e o cinema de Arte. Mas infelizmente, não é o que aconteceu com o alemão Werner Herzog. Ao aceitar dirigir essa epopéia sobre Gertrude Bell, famosa historiadora, política e historiadora inglesa do início do Século XX, Herzog realizou um dos filmes mais burocráticos, entediantes e sem emoção que já vi. Em 2:10 horas de filme, não teve sequer um único momento de impacto, de força que pudesse justificar assistir a esse filme tão longo. Talvez Herzog devesse ter assistido a "Lawrence da Arábia" e entender que para que um filme seja bom, não basta ter excelentes locações, fotografia e elenco: tem que ter um roteiro empolgante. Com um elenco estelar ( Nicole Kidman, James Franco, Robert Pattinson), o filme busca se apoiar totalmente no carisma deles e das locações, incrivelmente belas, mas pouco para sustentar um filme tão longo, Gertrude (Kidman) é uma inglesa inconformada com a vida social inglesa, e implora para o seu pai para que a mande para a Arábia. Assim, no início do Séc XX ela vai parar no Teerã, como representante inglesa na Embaixada britânica do Irã. La, ela acaba se apaixonando pelo secretário Henry ( Franco). s anos passam, Gertrude agora vai se envolvendo com a política e com os beduínos do deserto. Os anos se passam, e o filme passa a explorar a sua épica jornada na política entre os povos do deserto, inclusive conhecendo T.E. Lawrence ( que vem a ser o personagem Lawrence da Arábia, aqui interpretado por Robert Pattinson). Gertrude ajudou a dividir o limite entre as regiões nos países hoje conhecidos como Jordânia e Iraque. O filme também foca o romance de Gertrude com vários homens,s em no entanto, se firmar em nenhuma relação. Ela morreu em 1926, solteira, enterrada em Bagdá. O filme procura também mostrar a força de uma mulher em uma época e lugar onde o machismo imperava. Nicole Kidman faz o que pode, e está bem, porém prejudicada por um roteiro insosso e sem emoção. O que prejudica é a sua caracterização: os anos se passam, e ela está sempre igual. Franco e Pattinson estão no piloto automático, e ver Pattinson vestido como beduíno fazendo um papel que já foi de Peter O'toole, realmente é bem estranho. Aqui, Herzog pela primeira vez trabalha com uma protagonista feminina. Uma pena que ele não tenha dado a ela aquela dimensão de loucura que a gente tanto ama em seus personagens mais famosos: Fitzcarraldo, Kaspar Hauser, Aguirre, Woyzeck. Afinal, uma mulher com a dimensão de Gertrude, na época em que ela viveu, só sendo bastante louca. O filme participou da Competição em Berlin 2015.

Uncle Kent

Uncle Kent", de Joe Swanberg. Exibido em Sundance, essa comédia de baixíssimo orçamento realizado dentro dos preceitos do Movimento "Mumblecore" ( atores amadores, diálogos improvisados, locações prontas, baixo orçamento) teve uma continuação em 2015. O motivo do sucesso desse filme dentro do circuito independente foi apresentar um protagonista carismático: desengonçado, looser, na faixa dos 40 anos sem perspectiva de encontrar um amor verdadeiro. Kent( o ator e roteirista Kent Osborne) mora em Los Angeles e é um animador de um desenho infantil. Solitário, ele passa suas noites se masturbando no site de sacanagem de vídeo on-line " Chatroulette". Lá, ele conhece Kate ( Jennifer Prediger). Ela é uma jornalista de Nova York. Kent a convida para passar um fim de semana com ele em Los Angeles, e para sua surpresa, ela aceita. Na expectativa de que ele terá um fim de semana de romance é sexo, Kent se decepciona ao perceber que ela não está a fim de nada. Para um desgosto maior ainda, ela conhece uma mulher e propõe um mensagem, sendo que na hora H , Kate só fica com a garota. As cenas onde Kent e Kate se divertem no site Porno se passando por um casal enquanto outra pessoa se masturba são hilárias. Como sempre, o cineasta Joe Swanberg expõe os seus atores ao sexo explícito e nudez total. Aqui, a mistura de comédia e erotismo atinge um público adulto, identificado com a crise da meia idade e intensificará pela negativa do protagonista em ter filhos. É um filme que define os novos tempos, onde a legião de solteiros viciados em rede social e pornografia aumenta, acalentando noites solitárias com muita masturbarão. O filme tem um ritmo lento e os diálogos são bem jogado agora. Para quem gosta de filme com muito falatório, e' uma boa pedida.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Que horas são no seu mundo?

"Dar donya ye to saat chand ast? , de Safi Yazdanian. Protagonizado por duas grandes estrelas iranianas, " Que horas são no seu mundo?" é o filme iraniano mais Europeizado que já assisti. Leila Hatami, atriz de "A separação" e Ali Mosaffa, ator de " O passado", ambos filmes do cineasta iraniano Agshar Farhadi, são casados na vida real. Aqui, eles protagonizam uma história sobre memória e sobre o amor perdido no tempo e na separação. Goli(Hatami) mora a mais de 20 anos na Granca. Após a morte de sua mãe, ela retorna para o Irã, se sentindo culpada por não estar presente antes de sua mãe vir a falecer. Ao sair do aeroporto de Teerã, um homem misterioso surge. Ele é Farhad (Mosaffa), um pintor e moldurista que sabe quase tudo sobre o passado de Goli. Surpresa, Goli fica curiosa em saber o porque que esse homem sabe tanto sobre a sua vida e memória , mais do que ela mesma. Com uma fotografia extraordinária de Homayoun Payvan, de " O gosto da cereja", o filme traz um romantismo nostálgico, quase lúdico, como se o Irã fosse algum lugar da França. Um lugar de paz, perdido no tempo, onde a memória se faz presente em cada lugar, cada personagem que surge, cada música que toca. Você jamais terá visto um filme iraniano tão contemplativo e lírico como esse. Toda a narrativa é envolta em um tom contemplativo, melancólico. Uma profunda tristeza, sobre tempos que não voltam mais, me abateu após assistir a esse filme. Ainda mais ao som de uma versão francesa de "Quizas, Quizas, Quizas". A direção do estreante em longa Safi Yazdabian é formidável, um total controle sobre tudo. A cena da infância dos personagens é de uma beleza e poesia incriveis. O filme recebeu um prêmio da crítica Fipresci no Festival de Pusan.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sangue francês

"Un français", de Diastéme (2015) Bom drama francês, escrito e dirigido por Diastéme, fazendo voz aos filmes humanistas que surgiram na França principalmente na última década: filmes como "Policia", "De cabeça erguida", "Dois dias uma noite". São filmes que falam de uma Europa decadente, onde valores de dignidade e civilização há muito se perdeu. Cineastas como os irmãos Dardenne e Diastéme, querem acreditar que a figura do marginal é totalmente passível de humanização e de correção social, sem que para isso seja necessário medidas drásticas para reabilitá-los socialmente. Baseado em história real, 'Sangue francês" narra a epopéia de um jovem Neo-nazista Marco ( excelente desempenho de Alban Lenoir). Durante mais de duas décadas, acompanhamos o seu envolvimento com o Movimento neo-nazista e subitamente, como o passar dos anos, a sua crescente humanização. até questionamentos que ele levanta sobre ex-companheiros, que continuam no movimento ou aderiram ao partido de extrema direita, contrária à imigração e à presença de negros e árabes na França. É um filme duro e cruel, que não fornece soluções. Como Marco vai mudando o seu comportamento, as pessoas vão se afastando dele, no entanto, tipos mais humanos vão fazendo parte de seu convívio. O mais curioso, e para mim o que dá força ao filme, apesar da estranheza, é a passagem de tempo abrupta, que simplesmente elimina informações teoricamente essenciais para o entendimento da trama. Por ex, não sabemos porquê Marco muda bruscamente de postura. Não sabemos porquê ele se afeiçoa tanto ao personagem do farmacêutico, que vem a se tornar o seu melhor amigo. Acreditar que ele tenha salvado sua vida, talvez seja um pensamento ingênuo demais, para um personagem que costumava bater em homossexuais, árabes, negros, quase levando-os à morte. Por mais que seja baseada em história real, quero acreditar que o filme é uma espécie de parábola do Homem mau que se descobriu ser humano. A primeira parte do filme é brutal e visceral: cenas de porradaria , sangue, tripas. Todas as cenas muito bem coreografadas e dirigidas. Depois, o filme segue um percurso mais convencional, mesmo que com as elipses no tempo. Tivesse continuado na pressão que estava desde o início, o filme poderia ter se tornado um cult como "O ódio", de Kassovitz. Mesmo mediano, e um filme que vale ser visto pelo trabalho do protagonista e pela sua mensagem, ainda mais em tempos de imigração extrema na Europa.

Moonriver

"Moonriver", de Slava Mogutin (2015) O cineasta experimental e artista plástico russo radicado nos Estados Unidos Slava Mogutin convidou o cineasta independente Bruce La Bruce, famoso por seus filmes sexualmente explícitos com temáticas gays, para ser o protagonista desse seu curta totalmente fetichista. O filme, sem diálogos, faz três homenagens: ao próprio Bruce la Bruce, à música de Henry Mancini "Moonriver" e ao skinhead boy, tipo masculino que La Bruce venera em seus filmes. No filme ele corta o cabelo do jovem e vai cantando a música " Moonriver" quantas vezes for necessário até que o garoto... Enfim, se você não é um espectador muito do porra louca e com a mente mais aberta do mundo, mantenha-se muito, mas muito afastado desse filme. São 8 minutos de muito fetiche e perversão. Andy Warhol aprovaria com louvor.

Whitney

"Whitney", de Angela Basset (2015) Primeiro trabalho na direção da atriz Angela Basset, 'Whitney" é uma cinebiografia de uma das maiores estrelas do show bizz americano, centrado em sua carreira de 1989 a 1994, quando ela conheceu o cantor e marido Bobby Brown, que selaria o seu destino para sempre. Nesse período, houve também o estouro mundial do filme "O guarda-costas"e da música "I wll always love you". No relaacionamento com Bobby, Wjitney afundou na cocaína, por conta do amor doentio e dos ciúmes. Sua mãe e sua agente Robin sempre foram contra o relacionamento com Bobby Brown, que tinha fama de mulherengo e encrenqueiro, mas Whitney não deu ouvidos a ninguém. O que acho estranho nesse filme, é que ele centra em um período muito pequeno na vida de Whitney. Quem é fã não vai curtir muito, ainda mais que o personagem de Bobby Brown divide espaço com o de Whitney no filme, ou seja, é um filme dos 2. Whitney faleceu em 2012, então ainda tinha muita história a ser contada. Pior: todas as músicas não são na gravação original de Whitney, e sim, dubladas na voz de Deborah Cox. Como roteiro, é um filme que segue a cartilha de um dramalhão novelesco. O espectador, senfo fã, já conhece toda a história, e não ali é surpreendente. O que e triste, é saber que em 2015, a filha de Whitney e Bobby Brown, Bobbi Cristina, morreu de forma parecida à de sua mãe, aos 22 anos de idade: em uma banheira, chafurdada nas drogas. Muito triste. A modelo e atriz Yaya Dacosta está ótima no papel título, inclusive nos trejeitos de palco. É um filme com bela direção de arte e figurino. Uma pena que seja tão "flat", sem empolgar o espectador. Whitney merecia um filme que desse valor ao seu grande talento como atriz e cantora.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Deadpool

"Deadpool", de Tim Miller (2016) Primeiro longa do efeitista visual Tim Miller, já começou com o pé direito. Na sessão de cinema que eu fui, lotada, o público em peso no final da sessão ansiava pela parte 2. Bom sinal para mais um filme de super-herói da Marvel. Toda a fórmula está ali: Stan leee fazendo aparição, porradaria, efeito especial, vilão, mocinho. O que diferencia? Eu não sou grande conhecedor de quadrinhos, e não tinha muita referência sobre o Deadpool. Descobri que ele fala com o espectador, fala muita merda, tem humor irônico, tira sarro com todo mundo. O diretor e o roteirista tiram proveito dessa metalinguagem e acrescentam mais loucuras pro filme: citações aos nomes dos atores que estão no filme, sacanagem com Hugh Jackman, exculhambação nos créditos iniciais e finais...para quem busca uma comédia maluca com brincadeiras à la Paulo Gustavo ( que tira sarro de si mesmo e do conceito de uma filmagem) e ainda, repleta de violência , sangue e tripas ( o que justificou a censura 16 anos, pois as cenas de nudez são coisas de sessão da tarde, nada demais), o filme diverte. O roteiro é bem simplório, mas verdade seja dita, é o primeiro vilão que não quer acabar com o mundo. Na verdade, é o herói, Deadpool, que vai atrás dele por vingança. Por conta disso, o vilão não oferece perigo algum. Nem vou falar muito do filme pois não sou a pessoa indicada. Só digo que é um passatempo divertido, e só. Ryan Reynolds se encaixa como uma luva no personagem. Bonito, mas também divertido, com um tom de voz que combina bastante com a anarquia do personagem. A piada do orçamento para os outros X-men é antológica.

Kissing in the mouth

Kissing on the mouth", de Joe Swanberg (2005) Close de uma vagina sendo depilada. Close de mãos colocando camisinha em um pênis ereto. Close de pentelhos sendo cortados com tesoura. Close de um Pênis ejaculando. " Kissing in the mouth" fala sobre jovens recém formados em Uma faculdade em Chicago. E o que acontece durante quase 80 minutos de filme? Muito falatório. Interminável. Jovens sem perspectiva, sem saber o que farão da vida profissional, pessoal. Discute- se sobre sexo, casamento, trabalho. E entre um ou outro depoimento desencorajador, casais fazem sexo. A vida dessas pessoas é assim: vazia, e o sexo e' uma forma de extravasar esses anseios de rotina sem fim. O filme lembra aqueles filmes do Andy Warhol que ele fazia nos anos 60 e 70, onde a palavra de ordem era a monotonia dentro e fora do filme. Para voyeurs de plantão, o filme é recheado de sexo explícito. Para quem quer um filme para passar tempo, melhor passar muito longe. Porque no final, fica-se a impressão de que as pessoas possuem vidas muito chatas. É essa monotonia percorre cada minuto do filme.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Um estranho no ninho

"One flew over the cucko's nest", de Milos Forman (1975) Deveria ser obrigado a todos assistirem a esse filme de tempos em tempos, para relembrar a todos nós como se dá uma boa aula de cinema: assistindo a uma obra-prima. Direção, roteiro e interpretação soberbos, é o mínimo que se pode dizer desse filme Vencedor dos 5 principais prêmios Oscar em 1975: Filme, Ator ( Jack Nicholson), Atriz ( Louise Fletcher), roteiro e direção para Milos Forman. Baseado no livro escrito por Ken Kesey em 1962, teve os seus direitos comprados por Kirk Douglas e Michael Douglas, que convidaram Milos Forman para dirigir. Jack Nicholson foi indicado por ser um ator mais barato, uma vez que Gene Hackman e Marlon Brando haviam declinado de participar do filme. A história gira em torno de Mcmurphy ( Nicholson) , um criminoso acusado de agressões e estuprar uma menor de idade. Para escapar de trabalhar no campo, ele alega insanidade mental. ele é então transferido para uma clínica psiquiátrica, onde é recebido pela enfermeira-chefe Ratched (Fletcher). Macmurphy aos poucos vai se acostumando com o lugar, mas ao constatar que os pacientes são passivos e aceitam tudo os que lhes é imposto, ele decide mudar a rotina deles e fazê-los serem mais ativos. Logo ele se torna uma persona non grata no local. Quando ele descobre que só sairá do lugar quando tiver alta médica, Macmurphy resolve fugir. Um libelo a favor da liberdade, o filme pode ser visto como metáfora sobre a anarquia, o Macchartismo ( a cena da delação de um dos pacientes é bem tensa) e a luta de classes sociais. O filme é repleto de cenas antológicas ( a da pescaria, por ex). O elenco inteiro está formidável: Danny deVito, Christopher Lloyd, Brad Douriff, Scatman Crothers ( que viria a filmar com Nicholson em "O iluminado" no papel do zelador) e outros menos conhecidos. E o que dizer de Will Sampson, no papel do Chefe? A sua revelação é incrível, e a interpretação somente com olhares no desfecho é comovente. Tudo já foi dito sobre essa obra-prima. Para quem não assistiu, se sinta na obrigação de assistir. O curioso é assistir a esse filme tendo em mente o Jack de "O iluminado", que veio a ser filmado depois: Jack Nicholson faz as mesmas caras e bocas.

Em carne viva

"In the cut", de Jane Campion (2003) A neo-zelandesa Jane Campion ganhou fama ao realizar "O Piano" em 1993, vencendo os Oscar para atriz e atriz coadjuvante para Holly Hunter e Anna Paquin. 10 anos depois, no auge do sucesso, ela co-produz e dirige "Em carne viva", escrito e produzido em conjunto com a atriz Nicole Kidman. Essa primeira produção de Kidman acontece porquê ela iria protagonizar o filme, mas devido a questão do divórcio com o então marido Tom Cruise, ela declinou do papel. Para o polêmico papel da professora Frannie, foi escalada Meg Ryan. Na época foi um choque, pois ninguém imaginaria que a "namoradinha" da America, por conta de tantas comédias românticas que protagonizou, teria coragem de aceitar um papel tão cru e sexual. Faço um paralelo com Diane Keaton: até então considerada também careta, ela decidiu protagonizar "Á procura de Mr Goodbar", em 1977, um filme controverso sobre uma professora frígida que busca sexo nas noites de bar em bar. Foi um auê fudido e todo mundo dizia que a carreira dela estava abalada. E não foi o que aconteceu, ela acabou no mesmo ano ganhando um Oscar por "Annie Hall". Meg Ryan, interessante dizer, está a cara de Nicole Kidman no filme. Frannie é uma professora que escreve um livro sobre o submundo de Nova York. Sua meia -irmã, Paulina ( Jennifer Jason Leigh, em um daqueles papéis que a eternizaram, a da porra louca) é uma ninfomaníaca. Assassinatos tem acontecido na vizinhança: mulheres são decapitadas. Até que surge Malloy ( Mark Ruffalo), um detetive bronco e machista que vem investigar os crimes. Ele e Frannie acabam se envolvendo, muito por cpnta do sexo selvagem que ele lhe oferece. O que realmente chama a atenção no filme é a excelente fotografia, de Dion Beebe, e a atmosfera mezzo onírica mezzo assustadora promovido pelas lentes e pela direção sedutora de Jane Campion. Mas o que não faz o filme decolar? A sua primeira parte é indefinida. Não sabemos se é um drama, se é um suspense. Fica tudo meia boca, sem prender a atenção do espectador. Somente a partir do meio em diante, o filme vai seguindo um rumo mais concreto, conquistando o espectador que já estava desistindo. O filme é longo, e as cenas de sexo são pudicas se comparadas a 'Instinto selvagem". Mas o que realmente fez o filme acontecer na mídia é a participação de Meg Ryan. Ela se reinventou, e sim, está bem no filme. Sem pudores, sem vaidades. Ponto para Jane Campion, que também escalou acertadamente um ainda novato Mark Ruffalo. Para os assanhados, assistam a versão sem cortes, que tem uma rapida cena de sexo explícito no início, no bar.

Sex tape- Perdido na nuvem

"Sex tape", de Jake Kasdan (2014) Comédia apimentada protagonizada por Cameroz Diaz e Jason Segel ( protagonista do seriado "How I met your mother'). Parece uma boa receita, mas infelizmente, só ri uma vez durante o filme todo. O filme em si tem um ritmo entediante e um roteiro sem carisma. A idéia nem era de toda ruim: um casal que na juventude vivia transando, quando se casam e têm filhos vivem uma rotina de tédio que apaga a chama do tesão entre eles. A mulher, Annine ( Cameron Diaz) é dona de um blog que fala sobre o dia a dia de ser uma mãe ( eles são pais de 2 crianças). O marido, Jay ( Segel) é um radialista. Jay dá de presente vários Ipads para pessoas que ele considera. Annie, animada com a qualidade do Ipad, dá a id;eia do casal gravar um vídeio pornô para incrementar o sexo entre os dois. Após a transa inesquecível, ela pede pro marido deletar o video, porém ele se esquece e o video vai parar na nuvem. No dia seguinte, Jay recebe um sms de um anônimo dizendo possuir o vídeo e chantageia Jay, que junto de Annie, precisam resgatar cada Ipad com medo de que um dos donos possa ser o chantagista. No geral, me pareceu que o filme foi realizado apenas para divulgar as maravilhas de um Ipad: a gente fica sabendo que ele não quebra, que a câmera é potente, que ele se comunica via nuvem com todos os aparelhos da Apple e a bateria parece não acabar nunca. A piada que eu ri tem a ver com uma cena onde a personagem Annie precisa cheirar cocaína para poder dar tempo pro marido vasculhar uma casa que pertence ao personagem maluco de Rob Lowe. Na verdade, acho que eu ri pelo politicamente incorreto da situação, onde no final, a personagem disse que adorou a experiência de ter cheirado pó. Jason Segel, ótimo ator, não é a escolha certa para o personagem, que merecia alguém mais carismático para o papel. Segel tem aquela persona meio Will Ferrel, trabalhando mais com o tempo morto do que com o seu físico e timing. As cenas onde supostamente seriam para rir ficam muito no meio do caminho, e na verdade. acho que o grande problema do filme é que ele quer ser malicioso e sacana tendo no entanto um conteúdo família, que é a sua mensagem final. O desfecho tenta repetir a gag de "Se beber, não case", onde finalmente vemos o repertório do tal filme. E na boa? Não tem nada de engraçado, muito menos, sensual. Ponto positivo: Cameron Diaz parece ter tomado a poção da juventude, sempre jovial e com um corpo escultural. Será Photoshop?

Os bons tempos voltaram: vamos gozar outra vez

"Os bons tempos voltaram: vamos gozar outra vez", de Ivan Cardoso e John Herbert (1984) Comédia erótica nacional de 1984, dirigido pelo Mestre do Terrir, Ivan Cardoso, e pelo ator John Herbert. O fiime é dividido em 2 episódios: "Sábado quente", de Ivan Cardoso, e "Primeiro de abril", de John Herbert. O que vale considerar é que o Cinema dos anos 80 era extremamente ousado e livre de amarras. Malicioso, repleto de atores Globais totalmente nus e sem pudores e muita sacanagem. Os palavrões e textos chulos eram falados com extrema naturalidade, e isso é o que torna o filme divertido e saboroso, apesar das falhas técnicas ( fotografia, som). "Sábado quente" , ambientado no fim dos anos 50, narra a história de Soninha ( Carla Camurati), uma jovem virgem mas que está doida para transar com seu namorado, o sedutor e garanhão Mario ( Paulo Cesar Grande). Ele no entanto só quer transar com ela depois que se casarem. Soninha, irritada., resolve perder a virgindade com o amigo do primo Bilu (Pedro Cardoso), Bruno ( Alexandre Frota). No elenco estelar desse episódio, tem ainda José Lewgoy., Andrea Beltrão, Consuelo Leandro, Zezé Macedo, Tião Macalé e Maria Gladys. "Primeiro de abril" se passa em 1964, em plena ditadura militar. O militar cadeirante Argemiro ( Dionisio Azevedo) faz a linha dura com sua sobrinha Roberta, uma jovem fogosa. Na verdade, ele morre de tesão nela. Seu neto Edinho ( Marcos Frota) resolve fazer uma festa onde a ordem é todo mundo nú, para desespero de Argemiro, guardião dos bons costumes. No elenco de apoio, Wilson Grey Vera Zimmerman e Taumaturgo Ferreira. Fosse filmado hoje em dia, seria impossível juntar esse elenco para fazer esse filme, principalmente por conta da nudez e da sacanagem. O filme reforça os estereótipos sobre a figura feminina, sempre vista como objeto sexual. O primeiro episódio é mais divertido do que o segundo. Mais malicioso, mais sacana. Várias cenas para a antologia do cinema nacional, como Carla Camurati esquentando um termômetro, colocando-o dentro de sua calcinhai, ou Marcos Frota escondendo uma ereção debaixo de um bolo de aniversário. O segundo episódio é longo e acaba ficando sem ritmo. Para quem está a fim de rir de muita tosquice e safadeza nacional que se fazia nos anos 80, e é condescendente com problemas técnicos, poderá se divertir com essa comédia. A trilha sonora, recheada de clássicos da época, ajuda a dar um clima nostálgico. Fora isso, as imagens da cidade do rio de Janeiro da época valem a investida.

História da arte

"Art History", de Joe Swanberg (2011) Mais um produto do Movimento cinematográfico "Mumblecore": diálogos improvisados, iluminação natural, baixíssimo orçamento e filmes que falam do tédio da geração da faixa dos 20/30 anos. Sam ( O diretor do filme Joe Swanberg) é um Cineasta que está filmando um filme sobre um casal que se conhece em uma noite e transa. Ele dirige uma cena de sexo explícito com os dois atores , Juliette e Kent. Acontece que o tesão levado pelos atores na cena recercurte na vida real, eles se curtem, para desgosto de Sam, que sente atração por Juliette. A partir daí, a relação profissional do diretor com os seus atores passa a mudar radicalmente. Como a maioria dos filmes do Movimento, as cenas são longas e com o texto totalmente jogado fora. Em filmes convencionais, metade das falas seriam jogadas no lixo, mas aqui tudo é aproveitado em nome do naturalismo na construção das cenas. Como os filmes retratam o tédio e desconforto com a vida de uma geração, o recado está mais do que dado. Não é filme para um espectador comum. São entediantes e valem mais pela conduta de se produzir e dizer que existe um movimento, do que pela qualidade dos filmes em si. Tanto que esses filmes raramente entram em cartaz, e são vendidos via web ou em Festivais de filmes livres. Nota: Jow Swamberg é um adepto da liberdade de seus não atores em cena,. sem amarras e sem tabus. Eles fazem sexo, se masturbam, se expõem em sua plenitude.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Alexandre, o último

"Alexander, the last", de Joe Swanberg (2009) A premissa do filme é ótima: um casal de atores interpreta um casal apaixonado durante um ensaio de um espetáculo teatral. Qual o limite entre a vida real e a artística? Será que o Ator "desliga" um botão e interpreta uma cena de amor mecanicamente, ou ele vai fundo na realidade? Alex, atriz, é casada com Elliot, um músico que vive viajando. Durante uma audição para um espetáculo, Alex conhece Jamie: um jovem ator do Tenessee, que veio com uma mão na frente e outra atrás para Nova York tentar a sorte. Jamie passa no teste, e forma um casal com Alex no espetáculo. Piedosa, Alex oferece hospedagem em sua casa para Jamie. A partir dái, rola um clima de tensão sexual entre os dois. Filme regido sobre a premissa do Movimento cinematográfico "Mumblecore" (Baixíssimo orçamento, atores amadores, diálogos improvisados, tema sobre adultos na faixa dos 25 anos e a sua indefinição sobre os rumos pessoais e profissionais), "Alexandre, o último" foi dirigido por Joe Swamberg, um Papa do movimento. Aqui, ele escreveu, editou, dirigiu, produziu e fotografou esse drama com leve veia cômica, típico divã de terapia para moradores Nova Yorkinos. Infelizmente, lá pelo meio, Swamberg deixa de mão o tema sobre limite entre ficção e realidade e embarca numa corriqueira história de ciúmes, por conta da personagem da irmã de Alex, Hellen, uma fotógrafa, que também se interessa por Jamie. Para quem curte filmes mega independentes americanos feitos com quase nada, pode ser uma aula.

Perpetual

"Mørke Rum", de Peter Lavrsen (2015) Excelente curta Dinamarquês produzido pela Zentropa de Lars Von Triers, fala sobre descobertas. Mais precisamente, sobre a descoberta de sua sexualidade, e a de que no mundo, o romantismo já não existe mais. Sebastian é um jovem reprimido que passa suas tardes se masturbando em sites gays e sonha em ter um relacionamento amoroso. Um dia, ele marca um primeiro encontro com um paquera online. Para sua surpresa, Jacob, o peguete, quer levá-lo para um clube do sexo. Sebastian vai, mas se desaponta com a total falta de romantismo de Jacob. A transa não rola, pois Sebastian quer que a sua primeira transa seja na casa de Jacob, e não em uma cabine. Dias depois eles se reencontram em uma balada e sapaixonado, Sebastian topa transar na cabine de sexo. Para o seu desespero, Jacob, que havia lhe prometido amor, desaparece e não responde as suas mensagens. Sebastian se desencanta então com a visão romântica que tinha sobre os relacionamentos amorosos. Bem dirigido, e sem resvalar para a vulgaridade, o filme tem no carisma do jovem ator Nicolas Wollesen o seu grande chamariz. É pelo olhar melancólico de seu personagem que o espectador irá acompanhar a sua odisséia em direção a um amor inexistente. A cena final é de uma profunda tristeza e traz uma mensagem totalmente pessimista sobre as relações amorosas.

A casa de verão

"Das Sommerhaus ", de Curtis Burz (2014) Visto por fora, Markus é um engenheiro de classe média alta, bem casado e com uma linda filha de 11 anos, Elisabeth. Mas a realidade é outra: a sua esposa é depressiva, Markus tem amantes gays e sua filha testemunha em silêncio a falência da estrutura familiar. Um dia, elisabeth traz para casa Johanes, um menino de 12 anos de idade. Markus fica perdidamente apaixonado pelo garoto, e tenta seduzi-lo de todas as formas. Mas Johanes não é tão inocente assim, ainda mais que seu pai está com a empresa quase falindo. A primeira vista, o filme faz lembrar "Morte em Veneza", de Visconti, pelo olhar sexualizado do adulto ante a juventude. Mas as comparações param por aí. A direção de Curtis Burz fica indecisa entre ser um Michael Haneke ou um filme romântico. A trilha sonora, excessivamente cafona, e o ritmo lento do filme o prejudicam. O elenco, corajoso, principalmente no trabalho dos atores Sten Jacobs, no papel de Markus, e Jaspar Fuld, no complexo personagem Johanes, é que seguram o interesse do filme. Não é fácil assistir a um filme tendo como tema a pedofilia. Aqui, o roteiro, espertamente, joga com a virada de personagens, tornando mais "amena" a aceitação do tema. Mas o desfecho bota tudo a perder, partindo para uma ação totalmente inesperada. A única forma de eu aceitar esse desfecho é se for visto de uma forma simbólica.

A entidade

"La entidad", de Eduardo Schuldt (2015) Você se pergunta porquê ainda hoje, assiste pela milésima vez um filme de terror com a linguagem do "found footage", eternizado por "A bruxa de Blair". 2 fatores me fizeram assistir ao filme. em 1o lugar, por ser um filme de terror peruano. E 2o, pelo currículo do diretor. Eu não fazia a mínima idéia de que no Peru, existia um desejo de se fazer filme de terror. E mais: cópia descarada de ícones do Gênero. "A bruxa de Blair", "O grito" e "Atividade paranormal". Mas eu sempre ouvi o seguinte conselho: se for copiar, copie o que o filme tem de melhor. não foi essa a lição de Eduardo Schuldt. Diretor de várias animações familiares, com bichinhos fofos, essa é a sua primeira investida no gênero. Parece até que ele quiz brincar com ele mesmo, sair do filme família e investir em sangue e tripas. Só que ele fez da pior forma possível: Roteiro péssimo, efeitos toscos e atores amadores. Se fosse para fazer um terrir, seria até divertido, mas não, ele quiz fazer um filme sério. 4 estudantes de cinema ( alô "A bruxa de Blair"!!) resolvem filmar um documentário. Carla dá a idéia deles terem o tema de "Vídeo reações", ou seja, gravar apenas as reações das pessoas perante algo pavoroso. Isso os guiará até o cemitério, onde existe um projetor com um filme em super 8 escondido no porão! Ao assistirem ao filme, eles são amaldiçoados: todos os que vêem o filme, morrem ( Alô "O grito"!). E claro, todo o filme segue a premissa de que tem sempre alguém gravando as imagens, e é aí onde sempre me irrito: porquê alguém ficaria gravando 24 horas qualquer coisa, inclusive uma pessoa dirigindo um carro sem nada acontecer? E as baterias, que nunca descarregam? O desfecho tenta fazer algo surpreendente tipo Shayamalan, "Nossa, como eu não havia percebido?", só que desde o meio do filme você já saca que determinado personagem está agindo estranho..e sim, o final comprova isso. Mas aí, o filme não explica a relação dessa pessoa com a maldição. Tudo bem, o filme já foi esquecido mesmo. E como agem tolamente esses personagens. Essa geração de adolescentes retratadas nos filmes de terror são o que de pior existe no ser humano: não raciocinam, são idiotas e sempre partem pra pior opção. Uma pena que estudantes de cinema sejam sempre retratadas como gananciosos e ambiciosos, sem escrúpulos.

Filmefobia

"Filmefobia", de Kiko Goifman (2008) Assistir ao documentário do Cineasta Kiko Goifman anos depois de ter ganho vários prêmios em Brasília no ano de 2008, me faz pensar em várias coisas. Do Festival, ele saiu com os prêmios de Melhor filme do juri oficial, melhor filme da crítica, melhor montagem, melhor ator e melhor direção de arte. Três questionamentos: 1) Filme vencedor em Festival não garante visibilidade 2) Melhor ator para um cineasta e ensaista, Jean Claude Bernadet 3) Os limites entre ficção e documentário, para o trabalho do Ator Eu me lembro que na época que fiquei sabendo da existência do filme, em 2008, eu queria assisti-lo, mais por curiosidade. O seu tema, sobre fobias, me deixou intrigado. Mas por motivos que nem sei dizer, não o vi. Somente agora, 8 anos depois, tomei a iniciativa de vê-lo. Perguntei para vários amigos cinéfilos, e nenhum sequer havia ouvido falar do filme. Ser premiado em Festival, para boa parte dos filmes, não significa que ele vá seguir uma carreira comercial, nem ser visto pelo público alvo. Talvez a chance seja assistir em dvd ou em tv fechada. O tema de alguns filmes também parece não ser tão atraente assim para o espectador, e acaba ficando relegado a participação em Festivais. Aí fica a questão, que deixo em aberto: Fazer filmes para público ou para Festivais? No quesito Melhor Ator, outra polêmica. Jean Claude Bernadet é um famoso ensaísta e teórico sobre o Cinema, deu aulas em Faculdade de Cinema e dirigiu alguns documentários. Ele não é ator profissional, e aqui no filme, ele interpreta a si mesmo. O seu "Personagem" é um Diretor de um documentário que monta situações onde fóbicos precisam trabalhar os seus medos. Entre uma e outra experiência com as "cobaias", ele conversa em uma mesa redonda com a equipe: O diretor Kiko Goifman, o roteirista Hilton Lacerda ( Diretor do excelente "Tatuagem" ) e da diretora de arte Cris Bierrenbach. Ou seja, Jean Claude interpreta a ele mesmo. Fico imaginando o que os concorrentes da categoria não devem ter pensado. E por último, a questão ética sobre o trabalho do Ator. Li que no filme, temos o trabalho de atores lidando com suas fobias, e de atores contratados para interpretar histórias de fóbicos. Quem é quem? Nessa parte, e a que realmente me seduziu, fica o limite do trabalho do autor. O que é real? O que não é? Me lembro dos filmes de Eduardo Coutinho, principalmente de "Jogo de cena", onde a estrutura narrativa é semelhante: atores famosos e anônimos dando depoimentos emocionados sobre histórias comuns. Mas entre os anônimos, haviam atores decsonhecidos. Como o espectador saberá se está vendo uma encenação ou não? As cenas de torura me pareceram ser reais. Parece até que estamos assistindo a "Jogos mortais", ou "A câmera de horrores do Dr Phibes". Em um estúdio escuro, cenário de filme de terror B, e com excelente direção de arte, vemos pessoas sendo torturadas com cobras, ratos, botões de camisa!, sangue, borboletas e tudo o mais que você imaginar. Das raras cenas externas temos um homem com fobia de anão sendo sadicamente torturado por um deles. Como espectador, não sei se rio das situações estapafúrdias, ou se rio porquê essas pessoas aceitaram ser torturadas. Alguns até questionam o "Diretor" que se soubessem que seria assim, não teriam participado. Mas ai a pergunta: esse questionamento é real ou encenado? E o que dizer de uma cena de uma mulher nua, sendo torturada por carrinhos amarrados a vibradores, por conta de sua fobia a penetração sexual? Mas quem de fato deveria ter recebido um prêmio, é o Zé do Caixão pela sua participação. ele é convidado a assistir a algumas das torturas. Na dos ratos, um jovem totalmente nú fica amarrado a uma cama, e debaixo dele, vários ratos são colocados. Zé do Caixão diz que se o cara de verdade tivesse fobia, o pau dele ficaria mole. Só que não, ele ficou excitado. Como não gargalhar com esse depoimento? Mas atenção: é um filme para quem não se impressiona com imagens fortes: a mais louca de todas, o de uma mulher se cortando com uma gilete. Para nunca mais esquecer.

A ovelha negra

"Hrútar ", de Grímur Hákonarson (2015) Escrito e dirigido pelo cineasta islandês Grímur Hákonarson, "A ovelha negra" venceu o prêmio principal na Mostra "Un certain regard" no Festival de Cannes 2015. Quando o filme começa, parece que vamos ver uma versão em carne e osso de "Shaun, o carneiro", ou de "Babe , o porquinho atrapalhado". Isso porquê de cara somos apresentados a uma quermesse na zona rural da Islândia, onde o grande atrativo é um Concurso para escolha da melhor ovelha. Nesse mar de monotonia e marasmo, vivem os moradores do local: fazendeiros que criam rebanhos de ovelhas nas regiões montanhosas. entre eles, os irmãos Gummi e Kiddi, já na terceira idade, que não se falam a mais de 40 anos, mas moram um do lado do outro. Cada um tem seu rebanho. Kiddi vence o concurso, e invejoso, Gummi investiga e espalha o boato de que o rebanho do irmão está contaminado com a doença Scrapie, uma espécie de vaca louca. No entanto, a veterinária confirma o surto, e manda matarem todos os rebanhos da região. Emocionados, os irmãs relutam em matar seus animais, a quem eles tanto estimam. Li numa matéria que na Islândia existem mais ovelhas do que seres humanos, numa proporção de 800 mil por 300 mil. e mais: elas têm status de quase animais domésticos, como cães, por isso no filme elas são tão bem tratadas e cada uma possui um nome. O filme tem uma estranheza típica de filmes islandeses: uma mistura de drama e comédia de humor negro, baseada em situações patéticas. A direção de atores é sensacional, o elenco principal está ótimo. A fotografia valoriza as estações do ano, e no inverno, intensifica a crueldade do frio local. O filme tem um ritmo extremamente lento, mas para quem puder acompanhar até o final, irá presenciar um desfecho totalmente fabulesco, uma parábola sobre irmãos muito bonita.

Exposed

"Exposed", de Declan Dale (2016) Dar o título de "Exposed" para um filme pode ser mau agouro. Em 1983, foi lançado o filme com esse mesmo título, protagonizado por Nastassja Kinsky e Rudolf Nureyev, que misturava romance e filme policial. Agora, em 2016, outro filme é lançado, e misturando drama sobrenatural com policial. Essas misturas de gêneros em ambos os filmes não deram certo. "Exposed" tem no elenco Ana de Armas e Keanu Reeves. Sim, o nome dela vem antes, porquê na verdade ela é a protagonista da história. Keanu Reeves é um mero acessório, um chamariz para o público. A história gira em torno da personagem de Isabel ( Armas), jovem religiosa que certa noite, voltando de uma balada, aguardando o trem do metrô, vê uma revelação: um anjo. a partir daí, ela passa a ver anos em sua vida. Paralelo, e costurando a história, temos o personagem de Keanu Reeves, Detetive Galban, que tenta descobrir o paradeiro do assassino de seu colega na mesma estação de metrô que Isabel pegou, na mesma noite. A víúva do colega morto, interpretado por Mira Sorvino, pressiona o detetive Galban para descobrir o assassino. O filme é praticamente falado em espanhol, uma vez que toda a história de Isabel é protagonizado por hispânicos, envolvidos com religião e tráfico de drogas. A história é mal costurada, e toda a vez que entra Keanu Reeves, parece que foi enxertado. Li que o Diretor e roteirista do filme, Gee Malik Linton , ficou tão irritado pelo fato dos produtores terem re-editado todo o filme ( dizem que os produtores se sentiram enganados ao verem que Keanu Reeves não era o protagonista, e incluíram cenas para dar essa impressão) , que exigiu que seu nome verdadeiro fosse retirado dos créditos e se deu o pseudônimo de Declan Dale. O roteiro trabalha com uma linha meio Shayamalan: no desfecho, o espectador descobre a reviravolta da historia. Até lá, tudo parece gratuito e mal ajambrado. Uma pena, fosse a penas a história de Isabel, o filme teria mais potencial. Aliás, vê-se uma referência forte ao filme "Irreversível", no início, com a mesma cena do túnel onde a menina anda. Alíás, praticamente chupado. E triste constatar, mas Keanu Reeves está muito canastrão no filme. A cena onde ele, ao telefone, dá um ataque de piti após conversar com seu filho, dando-se tapas e gritando, é risível. Framboesa urgente!

Suíte francesa

"Suíte française", de Saul Dibb (2015) Para apreciadores de novelão sobre amores impossíveis durante a 2a Guerra mundial, como eu, irão ficar felizes com esse filme. Mas atenção, quem tiver hojeriza a histórias repletas de reviravoltas, traições e amores fugazes, passem longe do filme. ele é açucarado, feito para se apaixonar mesmo pelo casal central, e o espectador tem que estar indiferente a inverossimilhanças da história. Por ex, o coração bondoso do Tenente alemão Bruno von Falk (Matthias Schoenaerts), você não terá visto em nenhum outro filme retratando oficiais nazistas. Não há quem resista aos encantos dele diante da beleza e sensibilidade de Lucile Angellier (Michelle Williams). O filme é baseado no livro homônimo, escrito pela judia ucraniana Irène Némirovsky em 1942, antes dela ser presa e levada para Auschwitz, onde acabou falecendo. Somente em 2002 os manuscritos foram encontrados e lançados. O filme se passa na França, em 1940. Soldados franceses retornam para casa, derrotados, enquanto tropas alemães invadem a França. Na cidade de Bussy, vilarejo rural, Lucille mora em uma mansão com sua sogra, Madame Angellier ( Kristin Scott Thomas). Severa, o filho dela foi dado como prisioneiro de guerra em campo inimigo. Ela trata Lucille a ferro, e faz dela sua empregada, cobrando aluguel de suas terras. Quando chega a tropa comandada pelo Tenente Bruno, imediatamente rola um clima entre eles. O que os une também é a paixão pelo piano. O elenco, repleto de famosos, inclui Sam Riley, no papel do fazendeiro revolucionário Benoit. Todos os personagens passam por transformações, e mesmo em tom de novela das seis, o filme tem seus méritos. Sensivel, bela trilha sonora co-escrita por Alexandre Desplat e fotografia do espanhol Eduard Grau, o filme é daquele tipo de narrativa onde a gente torce sempre pelos mocinhos, e ond eos vilões, de tão maus, passam a ser carismáticos. Como resistir ao encanto e talento de Kristin Scott Thomas? O desfecho é sensacional, e de tão mirabolante, chega a ser divertido. Mas a gente curte, assim como curte "Casablanca" e seus excessos. Os detratores falam mal do fato do filme ser falado em inglês. Bom, em tempos de globalização, isso nem incomoda mais. Sessão da tarde premium.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Pessoas, lugares e coisas

"People places things", de James C. Strouse (2015) O diretor e roteirista James C. Strouse é mais conhecido por ter escrito as transições no filme "Nova York, eu te amo". "People places things" foi exibido em Sundance 2015 e desde já, é uma das minhas comédias românticas favoritas. O sucesso claro, vem da combinação roteiro inteligente + direção sensível e divertida + elenco sintonizado. O protagonista, o neo-zelandês Jemaine Clement, é realmente carismático. Diretor, ator e roteirista do cult de vampiros "O que vemos nas sombras", e dublador da cacatua Nigel no filme "rio", Jermaine incorpora aqui um cartunista depressivo, Will, que passa os seus dias dando aula de cartoon e desenhando seus comics. Will é muito gente boa, o tipo de amigo que você quer pra vida. Mas na vida amorosa, é um desastre. Sem ambições, um típico looser. Porém, amoroso. Impossível não se apaixonar pela sua simplicidade e o seu olhar pedindo abraço. A composição de corpo, de mãos, olhares, tudo é bem construído por Jermaine. Ao lado dele, um elenco muito cheio de timing e encantamento. As meninas gêmeas são um amor, espontâneas. O filme narra a história de um casal amoroso, mas cuja esposa resolve, no dia de aniversário de 5 anos das filhas, se separar. Ela argumenta que precisa se reinventar e que ele, Will, não a ajuda. Will passa então a dividir o seu espaço entre aulas, desenhos e a convivência com as filhas, que ele ama demais. Até que uma aluna pede para que Will conheça sua mãe. O filme é uma aula de comédia, diálogos inteligentes e de trilha sonora que se comunica com os sentimentos dos personagens. É o supra sumo do "feel good movie". Sim, todo mundo vai pensar em Woody Allen vendo ao filme. As locações no Brooklyn são demais, a fotografia muito viva. O filme é recheado de stock shots da cidade, intensificando o amor do realizador pela sua cidade. Queria muito que o filme merecesse um sucesso avassalador.