segunda-feira, 30 de abril de 2018

Mala noche

"Mala noche", de Gus Van Sant (1986) Longa de estréia do Cineasta Gus Van Sant, foi lançado em 1986, 3 anos antes de "Drugstory cowboy", o filme que o projetou internacionalmente. Baseado na autobiografia de Walt Curtis, narra a história de Walt, um jovem atendente de uma mercearia decadente em Portland, Oregon. Walt tem verdadeira fixação erótica por latinos. Um dia, surgem na sua loja 2 amigos: Jonnhy e Roberto. Walt imediatamente sente tesao por Jonnhy, e faz de tudo para que ele tenha um relacionamento. Mas Jonny o repele. Mesmo humilhado por Jonnhy, Walt insiste. Jonnhy desaparece, e Walt acaba transando com Roberto, que acaba indo morar com Walt. Todo rodado em 16 mm e em preto e branco, Gus Van Sant realiza uma narrativa que beira o experimental. Walt narra em off em muitas cenas, e o filme tem um olhar nostálgico. Não é uma produção fácil de assistir: ritmo lento, desconstruído, quase sem uma lógica narrativa. Por ser um filme de estréía, Van Sant resolveu fazer um filme totalmente fora do mainstream. O filme até hoje se tornou um cult, tendo sido lançado em dvd pela prestigiada coleção francesa "The Criterion collection", destinado a primeiras obras de grandes Cineastas. O elenco do filme é formado por atores amadores. Van Sant já mostra aqui a sua visão inquietante sobre a vida mundana e marginal de pessoas que nao se encaixam no que se chama de "vida sociável".

Daniel

"Daniel", de Dean Loxton (2015) Premiado curta inglês, conta a história de Daniel, um jovem húngaro que mora na Inglaterra para estudar psicologia. Para pagar seus estudos, Daniel trabalha como garoto de programa. Um dia, ele é convidado pela sua melhor amiga Nori, que desconhece seu trabalho, para um almoço, aonde ela apresentará o novo namorado dela, Tom. Ao se apresentarem, os 2 se olham com certo estranhamento, escondendo algum segredo do passado. Bem dirigido e com bela fotografia, o filme peca por um roteiro que deixa pontas em aberto. O desfecho é insatisfatório, mas a direção de Dean é interessante, pois constrói o filme através de pequenos fragmentos da vida cotidiana de Daniel, entre o almoço e flashbacks de seus clientes.

Pedro Coelho

"Peter Rabbit", de Will Gluck (2017) O cineasta americano Will Gluck realizou a refilmagem do musical "Annie" e também a comédia picante "Amizade colorida", com Justin Timbarlake. Sem medo de ser feliz, ele agora adaptou para o cinema o famoso personagem criado pela inglesa Beatrix Potter, Peter Rabbit. Peter surgiu em 1902 e permaneceu até o ano de 1912. Agora ele surge em animação, misturado a atores reais. Rabbit, sua família Coelho e os outros animais vivem em constante conflito com Mr. McGregor , que constriu sua fazenda aonde antigamente os animais se alimentavam. O pai Coelho foi morto pelo fazendeiro. Os anos se passam, e os coelhos sempre invadem a fazenda para roubar alimentos, até que um dia, o homem morre. Animados com a possibilidade de poderem comer para todo o sempre, os animais fazem festa, mas não esperavam que o sobrinho do homem, Thomas (Domhnall Gleeson) fosse assumir a fazenda e continuar a saga de eliminar os animais. Os bichinhos somente contam com a ajuda da doce vizinha Bea (Rose Byrne), protetora dos animais. Simpático filme infanto-juvenil, "Pedro Coelho" tem na animação e no trabalho do elenco ( Domnhnall Gleeson principalmente) a sua grande forca. O roteiro é fraco, lembrando muito o tom do personagem Pica-pau, que vive infernizando a vida de seus inimigos. Aqui não é diferente, e tudo tem ritmo e atmosfera de desenho animado. Não simpatizei muito com o Coelho, achei ele meio mala. Quem eu mais amei foi o Cervo, que toda hora fica hipnotizado pelos faróis de carro. Como filme juvenil que mistura atores e animação, prefiro mil vezes "Paddington 2".

domingo, 29 de abril de 2018

Esplendor

"Hikari", de Naomi Kawase (2017) Vencedor do Premio do Juri ecuménico em Cannes 2017, "Esplendor" é um belo filme que tem como tema o próprio Cinema. Naomi Kawase é uma das poucas Cineastas japonesas que possui prestígio no difícil rol dos Festivais Internacionais. Diretora dos cultuados "A floresta dos lamentos" e "O segredo das águas", ela tem uma filmografia baseada em filmes com dramas intimistas, evocando a natureza como elemento de transição emocional entre os personagens. Seus filmes tem narrativa lenta, contemplativa e poética. Particularmente, o filme dela que mais gosto é o acre-doce "Sabor da vida", com o mesmo Ator de "Esplendor", o excelente Masatoshi Nagase. Aqui, ele interpreta o fotógrafo Nakamori, que descobre ter uma doença que vai deixando ele cego. ele se envolve emocionalmente com a jovem Mizako (Ayame Misaki, maravilhosa), uma tradutora que descreve imagens de um filme para cegos. Kawasi filma com muita elegância e poesia esse belo filme sobre memória, imagem e luz ( que aliás, é a tradução literal do titulo japonês). Woody Allen jea havia lidado com o tema da falta de visão de um profissional de cinema na comédia "Dirigindo no escuro", mas aqui o roteiro traduz com extrema melancolia a possibilidade eterna de não se enxergar mais, e o que guardar para a memória dos últimos momentos de visão. O desfecho é muito lindo. Linda trilha sonora e claro, fotografia.

I am Divine

"I am Divine", de Jeffrey Schwarz (2013) Documentário sobre a maior estrela do Cinema Underground americano, a drag Queen Divine. Nascida Harris Glenn Milstead em 1945, na cidade de Baltimore, Divine veio a falever em 1988, em Los Angeles, na véspera de estrelar o seu primeiro Sitcom Mainstream, no papel de um homem, que era seu grande desejo. A personagem Divine foi tão grandiosa, que ofuscou o sonho de Harris de querer ser um Ator interpretando outros tipos de papéis, principalmente, os masculinos. A carreira de Divine surgiu ainda adolescente, quando conheceu o futuro cineasta John Waters na escola. Juntos, eles fizeram vários filmes em Super 8, e logo depois, pariram para longas mega baratos. O nome Divine surgiu logo em um desses primeiros curtas, e nunca mais saiu da vida de Harris. O estouro aconteceu logo depois do lancamento de "pink Flamingos", realizado com 10 mil dólares e alçado a status de cult por conta da publicidade feita em cima do filme de que Divine comia merda de cachorro. Isso de fato aconteceu: Waters queria provocar Divine para que ela fizesse o ato mais repulsivo possível e tornar o filme memorável e único. A partir daí, o filme se tornou um "must", e vieram outros filmes e o convite para Divine se mudar para New York. Lea, ela estabeleceu uma carreira de atriz em pecas de Teatro off Broadway, e em seguida, a de cantora Disco, com muito sucesso. O filme fala sobre a difícil relação que Harris teve com seus pais, que o expulsaram de casa assim que descobriram que ele era gay. Fala também por sua compulsão por comida e por compras, além dos problemas de saúde, que culminaram no ataque cardíaco que o matou. O documentário em si é bem simples e padrão: depoimentos e cenas de filmes e de arquivos de Divine cantando. e em eventos com artistas famosos. Mas tudo é tão divertido, que vale super a pena assistir e conhecer um Universo do Cinema Trash e Underground, que nada mais é, uma forma de expressar o amor `a Arte, na forma que for possível.

sábado, 28 de abril de 2018

Marvin

"Marvin ou la belle éducation", de Anne Fontaine (2017) A cineasta francesa Anne Fontaine dirigiu "Coco antes de Chanel", e "Os inocentes". Com "Marvin", ela ganhou o "Queer Lion" no Festival de Veneza 2017, prêmio destinado a filmes com temática Lgbts. Marvin (Finnegan Oldfield) é um ator que quer exorcizar o seu passado através de um monologo. Quando criança, ele sofreu bullying na escola e em casa, acusando-o de ser gay. Em conflito consigo mesmo, Marvin renegou a sua homossexualidade o quanto pode, até que, já na fase adulta, resolve se assumir e se expor nos palcos. Para isso, ele conta com a ajuda da atriz Isabelle Huppert, interpretando ela mesma. Mesmo com a presença da atriz Isabelle Huppert, gosto mais do passado de Marvin, interpretado pelo jovem ator Jules Porier. O roteiro fica muito mais interessante, e com personagens mais bem elaborados. No seu presente, o roteiro vai por caminhos óbvios e pior, investe em metalinguagem. O ritmo ficou lento e bastante chato.

Antes que tudo desapareça

"Sanpo suru shinryakusha", de Kiyoshi Kurosawa (2017) Exibido em Cannes na Mostra Um Certo Olhar em 2017, "Antes que tudo desapareça" foi dirigido pelo mesmo realizador dos cults de suspense japoneses "Pulse" e "Creepy". O filme é uma metáfora sobre a desilusão em relação `a humanidade. Cada vez mais egoísta, violenta, sem amor nem paixão perante um familiar, amigo ou a pessoa amada. Diante disso, Kurosawa cria uma fábula de ficção cientifica sobre uma invasão alienígena que está prestes a acontecer na Terra. 3 aliens são enviados ao Japão para estudar o ser humano e depois disso, eliminá-lo. No entanto, eles acabam se separando. O filme acompanha 3 historias, sendo que a de Narumi, uma designer gráfica, que prevalece. Ela é casada com Shinji, mas estranha o comportamento dele, totalmente apático. Na verdade, um dos alienígenas se apossou do corpo dele e busca estudar as emoções humanas. Criativo e ousado, Kurosawa aposta em um filme que mescla vários gêneros. Ele tem culhão o suficiente para apostar em cenas que poderiam beirar o ridículo, mas o trabalho dos atores e a sua direção impedem que isso aconteça. Assim como em "Creepy", Kurosawa estica o tempo do seu filme. Desnecessário dizer que o filme, com 2:07 horas, poderia ter pelo menos 20 minutos cortados na sala de montagem.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Teenage Kicks

"Teenage kicks", de Craig Boreham (2016) Escrito e dirigido pelo Cineasta australiano , Craig Boreham, é seu longa de estréia, tendo feito muito sucesso em Festivais internacionais. O filme tem como tema a adolescência conflitante, o bullying, descoberta da sexualidade, incesto, diferenças culturais e relacionamentos com família. Ou seja, nada muito diferente quando se fala dessa faixa etárea. O que o filme faz, é torná-lo mais adulto, com cenas de sexo e uso de drogas, quase um "Kids", de Larry Clark. Miklos, um adolescente de descendência árabe, mora com seus pais e o irmão mais velho na periferia de Sidney. Miklos tem como melhor amigo Dan, por quem sente uma paixão platónica. Miklos provoca um acidente que mata seu irmão mais velho, e a partir daí, o mundo parece desabar sobre a sua cabeça. Drama independente repleto de cenas de nudez, o filme traz um olhar realista e cruel de uma sociedade em decomposição. A vida gira em torno do sexo, na maioria das vezes, como válvula de escape para a falta de perspectiva na vida. Um filme desesperançoso e de ritmo lento.

Estrelas de cinema nunca morrem

"Film Stars Don't Die in Liverpool", de Paul McGuigan (2017) Adaptação da biografia de Peter Turner, ator inglês que no período de 1979 a 1981 teve um relacionamento com a atriz americana Gloria Grahame, bem mais velha do que ele, e mãe de 4 filhos de casamentos diferentes. Peter na época era um ator aspirante, e trabalhava em uma loja de móveis. Ele conheceu Gloria quando ela esteve em Liverpool, já em carreira decadente e atuando mais nos palcos. Os dois tiveram um relacionamento repleto de polemicas, por conta da diferença da idade e pela doença que Gloria contraiu, um câncer terminal. Com um excelente elenco de apoio inglês (Julie Walters, que faz a mãe de Peter, está incrível). o filme tem nas performances de Jamie Bell e Annette Bening a grande forca que mantém o nível e o interesse do filme. Ambos estão formidáveis. Annete novamente foi esnobada nas premiações, e aqui ela entrega uma atuação comovente. A direção de Paul McGuigan trabalha com elementos lúdicos, como as passagens de tempo entre cenários distintos, ou mesmo nos backprojections, reproduzindo uma atmosfera antiga. Chorei várias vezes, e o filme não esconde a sua tradição de melodrama. Como curiosidade ( já que eu nunca havia ouvido falar da atriz), Gloria Grahame ganhou um Oscar de atriz coadjuvante por "Assim estava escrito", em 1953.

Kodachrome

"Kodachrome", de Mark Raso (2017) Baseado em um artigo publicado no New York Times em 2010, "Kodachrome" é o típico road movie que fará o espectador chorar litros no final. "For Kodachrome Fans, Road Ends at Photo Lab in Kansas", do jornalista A.G. Sulzberger, falava sobre a peregrinação de vários fotógrafos entusiastas do Kodachrome, negativo elaborado pela Kodak que estava completando 75 anos de existência. Para infelicidade de todos, com o advento da câmera digital, os laboratórios passaram a encerrar as suas atividades de relevação do filme. A Dwayne’s Photo, em Parsons, Kansas, o último laboratório no mundo, resolveu encerrar as atividades em uma data de 2010. Com a noticia, centenas de fotógrafos migraram para lá para revelarem seus últimos rolos de filme. O roteirista Jonathan Tropper pegou esse mote sensacional e escreveu a história da relação desgastada de um pai fotógrafo, ausente a vida toda do filho por conta de sua profissão, e do filho, um agente musical, prestes a perder o emprego. Matt (Jason Sudeikis), no alto de seus 30 anos, está perdido na vida, quando surge Zoe (Elizabeth Olsen), a secretária e enfermeira de Ben (Ed Harris), pai de Matt. Ela vem com um pedido de Ben: que Matt o leve de carro até Kansas para revelar seus últimos rolos de negativo Kodachrome. Mas ele quer que seja de carro. Matt recusa, pois odeia o pai que o abandonou. Mas Zoe insiste, pois revela que Ben está morrendo de câncer terminal, e agora será a hora dos dois reatarem suas diferenças. Emocionante, e fazendo uma homenagem `a nostalgia da era da fotografia, o filme encanta pela história simples mas bem narrada, apesar de todos os clichês de filmes "feel good movie" sobre redenção de personagens. Trilha sonora fofa, fotografia rodada em 35 mm, e ótima performances. O desfecho é mais do que óbvio, mas tudo bem, é um filme feito apenas para esquentar corações endurecidos.

KInk

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Terra de Trovões

"Viharsarok", de Ádám Császi (2014) Premiado drama húngaro, que lida com o tema da homofobia. Em seu País, o filme foi considerado o "Brokeback mountain" local. A comparação faz sentido: o filme fala sobre a descoberta da homossexualidade já em fase adulta, o romance e posteriormente, a homofobia dos parentes e amigos. Szabolcs é um jogador de futebol, que entrou no esporte apenas porque foi um pedido de seu pai. Após uma discussão com seu treinador exigente e com seu melhor amigo Bernard, Szabolcs resolve reformar pro interior. ele herda uma fazenda abandonada do seu avó e resolve reformá-la. Um dia, Aron, um jovem pertencente `a uma gangue local, tenta roubar a motocicleta de Szabolcs. Aron se machuca e Szabolcs cuida dele. Aron acaba sendo contratado para ajudar na reforma da fazenda e inesperadamente, os dois se apaixonam e se tornam amantes. Bem dirigido e com boas performances, o filme é ousado nas cenas de nudez. O ritmo é bastante lento, mas a bela fotografia e as locações compensam. O roteiro em si não tem nada de novo, mas é um filme competente apesar do desfecho que com certeza, irá irritar muita gente.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Vingadores: Guerra infinita

"Avengers: Infinity war", de Anthony Russo e Joe Russo (2018) Bom, todo mundo sabe que esse filme terá continuação em 2019. e tá todo mundo torcendo para não morrer até lá. Eu mesmo fiquei com preguiça de fazer comentários sobre o filme, que claro, é pipoca da melhor qualidade. 3 considerações apenas: - Caralho, só imagino o orçamento relacionado ao Elenco desse filme! Gente pra caceta!!!! Até mesmo galera que só aparece em uma única cena, tipo Samuel L. Jackson, Willian Hurt, Gwyneth Paltrow... - Duvido que quem morreu no filme, tenha morrido mesmo! Marvel é máquina de dinheiro!!! Povo inventa de ressuscitar tudo depois. - O que seriam desses filmes de heróis sem essa relação familiar repleta de traições???

quarta-feira, 25 de abril de 2018

O traje de banho

"Le maillot de bain", de Mathilde Bayle (2013) Premiado curta francês, tem um tema muito ousado: a paixão platónica de um menino de 10 anos de idade por um homem de 35 anos. De férias com a família em uma região litorânea da França, Remi, 10 anos, conhece Lea, uma menina que também está de férias com seus pais. Ao ser apresentado ao pai de Lea, a vida de Remi muda radicalmente: ele se apaixona de imediato por Stephan, a ponto de ter sonhos eróticos com ele. Com uma bela e difícil performance do menino Roger Manning, fico curioso em saber como foi feito o contato pro jovem ator fazer o papel do protagonista: "Olha, você fará o papel de um menino que se apaixona por um homem mais velho". Será isso mesmo? De qualquer forma, a sutileza e inteligência da diretora e roteirista Mathilde Bayle evita qualquer tipo de situação constrangedora, algo que poderia facilmente ter acontecido. Um filme adulto, apesar de ter crianças como protagonistas. E sim, bastante sensual, erótico e nada inocente.

O primeiro amor

“Flipped”, de Rob Reiner (2010) O cineasta americano Rob Reiner é responsável por 2 clássicos dos anos 80: “Conta comigo” e “Harry e Sally”. Mas é no primeiro que “O primeiro amor” se aproxima. Anos 60, amor juvenil, baixa auto estima, jornada do herói, rito de passagem. Bryce é um menino de 7 anos que se muda com seus pais. Na casa da frente, mora uma menina da mesma idade que logo se aproxima por ele. Preconceituoso pelo fato da família dela ser mais pobre e ela ser estranha aos seus olhos, Bryce a rejeita. Os anos se passam, e Juli continua apaixonada por ele. Mas logo ela se frustra quando descobre que Bryce agiu ingenuamente para humilha-la. Com temas como bullying e rejeição, o filme trata de todos os clichês de filmes desse gênero adolescente. A diferença é a narrativa: a mesmo cena é vista pelo ponto de vista dele e depois dela. Rob Reiner continua filmando com sensibilidade, e os dois jovens atores são carismáticos. Ele ainda ressuscitou Rebecca de Mornay e Aidan Quinn. Não é um clássico como os outros mas é bem simpático. O típico filme família.

Gigante

"Handia”, de Ailor Arregi e Jon Garaño (2017) Baseado em fatos reais, esse filme espanhol arrebatou 10 prêmios no Festival Goya, dividindo os prêmios com o drama “A livraria”. Ambientado nos meados do Sex 19, o filme acontece no País Basco. A Espanha vive uma Guerra civil e jovens são mandados para a guerra. Entre eles, Martin, irmão de Joaquim, inseparáveis. Filhos de um pobre agricultor, que escolhe Martin ao invés de Joaquim para mandar para a guerra. Lá, Joaquim se fere e fica com o braço direito imobilizado. Ao retornar para casa, ele descobre assombrado que seu irmão cresceu e se tornou um gigante de 2, 24 metros. Sem dinheiro, Joaquim se aproveita da condição física de Martin e o apresenta Europa afora como uma aberração. Baseado na história do “Gigante de Aldoz”, o filme se passa em uma época aonde o gigantismo não era visto como um distúrbio do metabolismo. O filme parece uma mistura de “O homem elefante” e “Edwards mãos de tesoura”. Com um tom realista e ao mesmo tempo fabulesco, o filme tem excelência técnica tanto na fotografia quanto na direção de arte. Mas o que mais chama atenção é a maquiagem, que fez do jovem ator Eneko Sagarday, de 1,84, um gigante de 2,24. Belo, triste, muito bem dirigido, o filme só peca pela longa duração, o que faz cair o ritmo no meio da duração.

A livraria

“The bookshop”, de Isabel Coixet (2017) Co- produção Espanha e Inglaterra, dirigido pela espanhola que realizou “Minha vida sem mim”, “ A vida secreta das palavras” e “ Ninguém deseja a noite”. O filme venceu os Goyas de Melhor filme e direção em 2018. Ambientado na pequena cidade inglesa litorânea de Hardborough, 1959, um lugar perdido onde a cultura não existe. Florence (Emily Mortimer), em luto pela morte do marido, se muda para a cidade e decide montar uma livraria. Na cidade, ninguém tem o hábito de ler, com exceção do solitário e ranzinza Edmund (Bill Nighy). Florence enfrenta resistência de todos, mas aos poucos vai ganhando um público que passa a ler os livros. Mas Violet (Patricia Clarkson”, uma aristocrata da cidade, quer acabar com o sonho de Florence e com isso, fechar a livraria. Bonito, com ótimos atores ingleses,o filme vai na tradição de filmes como “Chocolate”, onde estranhos chegam e mudam a vida pacata da região, transformando a vida de todos. Um filme nostálgico, classudo, melodramático, uma festa para quem busca um filme emotivo com mensagem e que cativa o espectador com personagens edificantes. O desfecho é belíssimo e uma ode ao hábito da leitura.

A gaiola das loucas

“La cage aux folies”, de Edouard Molinaro (1978) Uma das comédias francesas mais bem sucedidas do cinema, fez tanto sucesso que até mesmo no difícil mercado americano ele foi uma grande sensação, tendo sido refilmado pelo experiente Mike Nichols em 1996 com Robin Willians e Nathan Lane aqui muito bem representados pelos brilhantes Ugo Tognazzi e Michel Serrault. Adaptado da peça escrita por Jean Poiret, o filme foi lançado em 1978 e fez furor ao tratar de tema como homofobia, conservadorismo, racismo e transformismo, numa época onde tudo isso ainda era um enorme tabu. Com muito bom humor e elegância, o filme traz para o grande público uma relação homossexual vista como qualquer casal: ciúmes, ataques de pelanca e muito amor. A história todos já conhecem: Renato (Tognazzi) é dono da casa noturna gay “ A gaiola das loucas”. Ele é casado com Albin (Serrault), chamado artisticamente de Zazá, a maior estrela da casa. O filho de Renato, Laurent, foi abandonado quando criança pela mãe, uma mulher feito de uma relação hétero de seu pai. Laurent anuncia que vai casar e precisa apresentar seus pais aos pais da noiva, uma família mega conservadora. Para isso, precisam esconder Zazá. Com ótima direção de Moulinaro ( que foi indicado ao Oscar na categoria, um grande feito, junto do roteiro) , o filme é uma sucessão de gags geniais em cima do estereótipo do negro e do homossexual. Provavelmente se tivesse sido lançado hoje em dia o filme teria sofrido bastante,mas sendo um filme de época (1978), é delicioso perceber como o mundo era muito mais divertido. O elenco de apoio está todo sensacional! O filme teve uma sequência desastrosa em 1980.

A sociedade literária e a torta de casca de batata

“The Guernsey literary and potatoe peel book society”, de Mike Newell (2018) Adaptação do best seller de Anne Borrows e Mary Ann Shaffer, tem uma trama muito semelhante ao recente sucesso “A livraria”, de Isabel Coixet. Ambos os filmes se passam no pós guerra, tem flashbacks, e protagonistas femininas apaixonadas pela literatura e que despertam a paixão dos livros em pessoas comuns. Dirigido pelo inglês Mike Newell, de “Dançando com um estranho” e “ Quatro casamentos e um funeral”, o filme é um super melodrama repleto de amores impossíveis, envolvendo paixão proibida entre ingleses e alemães. O elenco, capitaneado por Lily Jane e Michael Huisnan, narra a história de Juliet, uma escritora de sucesso que recebe uma carta de um fazendeiro criador de porcos na Ilha de Guersney, ocupada pelos alemães. Juliet acaba sabendo por ele que um grupo de apaixonados por literatura criou uma espécie de círculo secreto de leitura. Juliet se interessa pela história e segue até a ilha para conhecer as pessoas. Mas a sua presença muda a vida de todos ali. Com excelente núcleo de Atores ingleses, o filme entretém o espectador apaixonado por histórias de amor clássicas e mega românticas. Duas coisas incomodam: a longa duração, e o excesso de clichês. O desenrolar da história é bem óbvio, e o final então, nem se fala. Vale como sessão da tarde.

Ilha de cachorros

“Isle dogs”, de Wes Anderson (2018) Absolutamente chocado com a qualidade artística dessa obra-prima de Wes Anderson: o roteiro, a fotografia, a animação em stop motion, a trilha sonora de Alexandre Desplat, que reproduz em sons o tom épico dos filmes de samurais e a excelência da dublagem de um time invejável de Atores: Bryan Craston, Scarlett Johanson, Tilda Swinton, Frances MacDormand, Edward Norton, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Ken Watanabe, Greta Gerwig e Bill Murray. O filme levou o Urso de Melhor Diretor para Wes Anderson em Berlim 2018, merecidamente, pela sua visão totalmente anárquica e bizarra da sociedade. O filme tem diversas cenas antológicas, mas destaco a da cirurgia de rim e a da preparação de um sashimi venenoso. Que riqueza de detalhes, fico impressionado com o requinte artístico! O filme se passa no futuro em uma cidade distópico do Japão. O prefeito, Kobayashi, resolve enviar todos os cães domésticos para a Ilha do Lixo, promovendo uma verdadeira limpeza na sociedade. Ele avisa os caninos de espalharem uma gripe mortal. O sobrinho dele, Akira, de 12 anos, foge até a ilha para resgatar seu cachorro cão de guarda, e lá, descobre segredos sobre seu tio.

As leis da termodinâmica

“Las leyes de la termodinamica”, de Mateo Gil (2018) Ex- assistente de direção de filmes espanhóis, Mateo Gil escreveu e dirigiu essa comédia romântica, pegando emprestado a narrativa de filmes como “Medianeira” e “500 dias com ela”. Misturando narração em off, animação, tabelas, gráficos e câmeras estilizadas, o filme tem uma premissa original: Manel, estudante de física, neurótico e cheio de manias, se utiliza das leis da física e da termodinâmica no seu dia a dia, principalmente em seus relacionamentos. Ele é todo cartesiano, e coloca em risco a sua relação com a modelo Elena. Em paralelo, o seu amigo Pablo (Chino Darin, filho de Ricardo), é um mulherengo incorrigível que se apaixona por Vicky, mas não consegue ser fiel. O filme tem uma linguagem curiosa: o Diretor convidou físicos famosos para explicarem o conceito da termodinâmica, e enquanto falam, vemos as duas duplas românticas tentando salvar seu relacionamento. No início tudo parece interessante, mas fórmula cansa já pro meio do filme, que parece interminável. O protagonista, Vito Sanz ( a cara do Marcelo Medici) achei sem carisma e para piorar, seu personagem é uma mala total. Uma comédia de 100 minutos que podia ter 20 minutos a menos!

A casa torta

“Crooked house”, de Gilles Paquet Brenner (2018) Depois do sucesso de “Assassinato no expresso oriente”, os livros de Ágatha Christie estão rendendo novos frutos no cinema. Infelizmente, essa adaptação dirigida pelo francês que realizou o ótimo “ A chave de Sarah”, é pra lá de mediana, e a culpa em boa parte é do elenco totalmente no automático e com interpretações óbvias do estilo “ who’s who”: ou seja, todo mundo precisa agir como suspeito para confundir o espectador. Max Irons, que interpreta o detetive Charles Hayward, está muito fraco e sem qualquer carisma no papel do protagonista. Para quem conhece a obra de Ágatha Christie, sabe que existe um assassinato e durante o filme todo a gente vai suspeitar de todos. Sarah Leonidas é neta de um milionário que ela acredita ter sido assassinado. Ela contrata o detetive Charles, que foi seu ex- namorado, para solucionar o caso. Ele resolve investigar todos os membros da família Leonidas: cada um tem uma possibilidade de ter matado o patriarca. Sem ritmo, com música excessiva, e performances caricatas, a direção ainda abusa de todos os clichês do cinema noir. Desperdício de Terence Stamp e Glenn Close.

Custódia

“Jusqu'à la garde”, de Xavier Legrand (2017) Filme de estréio do Ator Xavier Legrand, que aqui também escreveu o roteiro. O filme recebeu inúmeros prêmios em Festivais importantes, como San Sebastian, Veneza ( Leao de Ouro de melhor diretor), Miami (melhor roteiro) entre outros. O filme vai num crescendo de tensão que me deixou sem fôlego. Imaginem “O iluminado” realista! E que atores: o trio principal está fenomenal: Lea Ducker e Denis Menochet estão incríveis, mas o menino Julien, interpretado com absurda dramaticidade por Thomas Gioria, rouba todas as cenas. O filme na sua primeira parte lembra bastante o iraniano “A separação”. Um casal, pai de dois filhos, discutem a guarda do menor, que se recusa a ver o pai, que ele acusa de ser violento. Mas a juíza dá ganho de causa para Antoine, logo o menino tem guarda compartilhada. Mas Antoine se utiliza do menino para se reaproximar de Miriam, sua ex. A direção de Legrand privilegia o trabalho dos atores. Um filme sem trilha incidental, focado nos diálogos e no silêncio. E o desfecho, meu Deus, que pauleira!

Campeões

“Campeones”, de Javier Fesser (2018) Você já viu esse filme mais de cem vezes. Afinal, filmes sobre superação a gente ja sabe a receita de cor. E não existe o tal do gênero “Feel good movie” sem histórias de viradas de personagens. Mas é por isso mesmo, que “Campeões” é tão bom. Emocionante, divertido, sensível, e com performances irresistíveis de personagens carismáticos e marginalizados. Um homem bronco é obrigado a lidar com um grupo de pessoas fora da sociedade normativa e aos poucos, vai aprendendo a lidar com as diferenças dos outros e seus preconceitos. Você já viu isso naqueles filmes de professores e alunos da periferia. Aqui, a gente troca por um treinador do time oficial de basquete espanhol é um grupo de alunos com síndrome de down. O treinador é Marco ( Javier Gutierrez, um dos maiores astros espanhóis da atualidade), um tipo bronco e mal humorado e que acaba de se separar de sua mulher, que queria um filho. Depois de beber, ele é multado e obrigado a prestar trabalho comunitário. A juíza o obriga a treinar um time de alunos portadores da síndrome de down. Misturando atores com down e outros não portadores, o filme equilibra humor e drama com doses homogêneas. Impossível não chorar, mesmo sabendo tudo o que irá acontecer, e mesmo que o filme esteja repleto de frases edificantes. Melhor filme para se assistir com amigos e família.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

O quarto de Leo

"El cuarto de Leo", de Enrique Buchichio (2009) Premiado drama uruguaio, co-produção com Argentina, e que tem como tema a saída da armário e a difícil aceitação de sua homossexualidade. Leo (Martin Rodriguez, ator argentino em bela performance) namora Andrea. Mas a relação não está bem, e Andrea termina o namoro. Leo vai procurar um psicólogo, mas ele sabe o que passa em sua alma e coração: ele se descobre gay. Leo passa as noites em chats gays e acaba conhecendo Felipe, por quem se apaixona. Mas ao reencontrar Caro, uma amiga de escola, Leo passa a encarar a vida de outra forma. Belamente interpretado, o filme começa muito bem, mas com a entrada de Caro, parece que estamos vendo um outro filme. A história do despertar sexual de Leo já daria um belo filme, mas com Caro, o tema diverge para a depressão. Delicado, dirigido com muita sensibilidade, e fotografia do craque Pedro Luque, fotógrafo uruguaio que anda fazendo carreira em Hollywood. Pena que o roteiro enverede por outro caminho. O desfecho deixou muita gente chateada.

domingo, 8 de abril de 2018

Arábia

"Arábia", de João Dumans e Affonso Uchoa (2017) Escrito e dirigido pelos mineiros João Dumans é Affonso Uchoa, "Arábia" é um dos mais contundentes filmes sobre a solidão e sobre a luta do brasileiro pobre e anónimo para sobreviver no interior do Brasil. André é um adolescente que mora com seu irmão caçula em uma cidade próxima `a Ouro Preto. Seus pais viajaram `a trabalho e quase nunca aparecem. Eles moram próximos `a uma fábrica de alumínio, que espalha poluição nos arredores. Um dia, um funcionário da fábrica, Cristiano, se acidenta, e a tia de Andréa, que é enfermeira, pede para que ele vá na casa de Cristiano buscar roupas. André encontra um caderno com escritos e a partir daí, passamos a acompanhar a vida d[pregressa de Cristiano, e a sua luta para sobreviver: preso por consumir droga, quando solto, ele viaja pela estrada, em busca de trabalho. O filme, quase todo narrado em off por Cristiano, tem uma dimensão sobre a solidão que chega a incomodar e a machucar a alma. O ator Aristides de Sousa, que interpreta Cristiano, é um ex-presidiário de verdade. A sua presença na tela é magnética, e sua voz, invade nossos corações. O filme fala sobre luta, desilusão, esperança. Com um trabalho de Direção brilhante, com momentos de pura poesia, o filme provavelmente terá pouco impacto no espectador comum: o ritmo é bastante lento, e os planos são bem longos. Linda trilha sonora, nesse filme que venceu inúmeros prêmios no Festival de Brasília 2017 (Filme, Ator (Aristides), edição e trilha sonora.

Com amor, Simon

"Love, Simon", de Greg Berlanti (2018) Adaptação de um livro de título curiosíssimo, "Simon and the homo sapiens agenda", é um filme antenado com os novos tempos, a nova geração de jovens gays que saem do armário sem sofrerem o bullying que era comum há até pouco tempo, muito por conta das antigas gerações que abriram as portas para o novo "outing". E com certeza, o Cinema, a música pop e a literatura foram fundamentais para que isso acontecesse: O filme "Cabaret", Beyoncé, David Bowie e tantos outros ícones pop que pululam nas telas desse delicioso e divertido filme. Simon (O carismático Nick Robinson, de "Tudo e todas as coisas"), tem 18 anos e conta os dias para a sua formatura no colégio. Ele tem uma família exemplar: pais liberais (Jennifer Garner e Josh Duhamel) e uma irmã caçula de mente aberta. Seus amigos na escola o adoram. Mas Simon tem um segredo: ele é gay, e tem medo de se assumir. Até que um dia, um anónimo posta no blog do colégio sobre suas ânsias de ser gay e não poder se assumir. Simon se espelha nele e troca correspondência anônima com ele. Com um roteiro repleto de clichês do gênero adolescente em conflito ( Referencias a "Glee", "500 dias com ela", etc) , o filme cativa pelo olhar totalmente otimista sobre um tema que sempre foi tabu na rotina das pessoas. Aqui, quase todos são abertos ao outing, e por isso mesmo, o filme sofreu muito preconceito por conta de grupos de gays que acharam que o filme é muito "Disney" demais, sem discutir de forma realista a descoberta da homossexualidade. Uma bobagem, e no cinema, repleto de adolescentes, todos amaram o filme e a discussão que ele propõe. Katherine Langford, que protagonizou a série "13 reasons why", faz a melhor amiga de Simon, Leah. E curioso, o filme tem uma proposta semelhante a esse famoso seriado da Netflix: Afinal, quem é o anónimo "Blue"? Até o último minuto ficamos sem saber, e é isso que o filme faz bem, em manter nossa curiosidade.

Eu consigo falar

"I can speak", de Kim Hyun Seok (2017) Uma das maiores bilheterias do cinema sul coreano de 2017, a comédia dramática "Eu consigo falar" é baseada na história da ativista sul coreana Lee Yong-soo. Ela foi uma das sobreviventes das chamadas "Mulheres do conforto", escrevas sexuais exploradas pelos japoneses durante a 2a guerra mundial. Ok-boon (Na Mun-hee, excelente e comovente) é uma idosa que vive anotando todo tipo de penalidade nas ruas para posteriormente reclamar no distrito da prefeitura. Ali, todos a temem. Um dia, ela conhece o novo funcionário Park Min Jae, um jovem que estudou nos Estados Unidos mas se sente culpado porque sua mãe morreu quando ele estudava lá fora. Por conta disso, ele se torna uma pessoas fria e sem emoção. A relação dos 2, que começa desgastada, vai se tornando afetiva, até que a idosa pede para que o jovem a ensine a falar inglês. O filme é muito longo e parece vários filmes em um só. Sao muitas histórias contadas, e que acabam se prejudicando, apesar da excelência do elenco. O filme começa como uma comédia de costumes, quase pastelão, e depois, se torna em um drama extremamente trágico. O humor nunca mais retorna. Fica-se a impressão de estarmos vendo um outro filme, que fala sobre suicídio, venda de crianças, pedofilia, mal de alzheimer, vítimas da guerra, irmãos que se separam, e tudo o mais que for possível para extrair lágrimas do espectador. O filme vale pelo elenco e por trazer ` tona o tema das "Mulheres do conforto", que visto hoje em dia, em tempos de abuso sexual, parece bastante oportuno. Mas a embalagem para se vender esse filme veio errada. Ou certa, quem sabe, afinal, o filme arrebentou nas bilheterias.

sábado, 7 de abril de 2018

Você nunca esteve realmente aqui

"You Were Never Really Here", de Linney Ramsey (2018) Extraordinário trhiller, uma mescla fabulosa de "Drive", "Taxi driver" e "Hardcore: o mundo do sexo", 3 grandes obras-primas do cinema. Linney Ramsey, realizadora do tenso "Precisamos falar sobre Kevin", adaptou o livro de Jonathan Ames e escreveu o roteiro. Com direção primorosa e atuação brilhante de Joaquim Phoenix, o filme arrebatou em Cannes os Prêmios de Melhor ator e roteiro. Joaquin Phoenix é Joe, um ex-combatente da Guerra do Golfo e que se encontra cheio de paranóias e visões traumáticas da guerra. ele mora com sua mãe que também é doente mental. Joe trabalha como um detetive em busca de garotas raptadas/traficadas, e usa de métodos brutais para fazer o resgate. Um dia, ele recebe uma encomenda: resgatar a filha perdida de um Senador. Com um roteiro realmente foda, que homenageia todos os filmes citados, "You Were Never Really Here" é maravilhoso em todos os níveis. Cenas muito bem orquestradas, fotografia estilizada, atores maravilhoso e uma cena antológica: Joe ao lado de um agente moribundo, prestes a morrer, cantando o clássico "Never been to me", de Charlene. Absolutamente imperdível.

Marcha elétrica

"Kapgang", de Niels Arden Oplev (2017) Lindo drama dinamarquês, sobre a descoberta da sexualidade de Martin, um menino de 14 anos no início dos anos 70, quando a liberdade sexual explodia no mundo. Na época, os filmes pornos começaram a surgir no País, e essa influencia gerou repercussão na vida das crianças e adolescentes. Martin, ao sair da escola, descobriu que sua mae acabou de falecer. seu pai, inconsolável, se joga nos braços da cabeleireira da cidade. O irmão mais velho de Martin entra em um processo de depressão. Em luto, Martin ainda sofre por conta de sua sexualidade: ele é apaixonado pelo seu melhor amigo, Kim. Mas para não levantar suspeitas, namora Kristine. O filme é praticamente uma versão Lgbts do cult "Minha vida de cachorro". A perda da mãe, a descoberta da sexualidade, tudo está ali presente. Na trilha sonora, toca no prólogo "love hurts", jea para dar o tom do filme. Bem dirigido, com ótimas atuações do elenco, principalmente de Villads Bøye, no difícil papel principal. O filme apresenta uma das mais lindas cenas de amor entre 2 meninos que já assisti.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Um lugar silencioso

"A quiet place", de John Krasisnki (2018) O Ator e Cineasta John Krasisnki era daquelas figuras do meio independente americano que se sobressaiu muito por conta de seu excelente personagem no seriado de sucesso "The office", e pro ter se casado com a grande estrela Emily Blunt. eu sou totalmente apaixonado por uma comédia romântica dirigida por Sam Mendes, chamada "Distante nós vamos", que infelizmente pouca gente viu. John está carismático, sensível, divertido, o tipo de amigo que queremos pra vida. Com esse background no humor, ninguém poderia imaginar que Krasisnki fosse realizar um dos melhores filmes de terror recente, dono de um domínio cinematográfico impecável, mesmo que chupando referencias de "Alien", "Jurassic park" e O iluminado". Mas nada disso importa, pois os cinéfilos amam ver uma referencia. O filme é sensacional! O roteiro é bem simples: o mundo foi dizimado por criaturas que devoram tudo que produza som. A família Abbot consiste em pais e 3 filhos, que precisam aprender a sobreviver no silencio, sem fazer som. Mas Evelyn está grávida, e o parto iminente poderá acarretar consequências desastrosas. Com muitas cenas antológicas e um trabalho impecável de edição e mixagem de som, o filme assusta pela ausência de ruídos, que quando surgem, provocam o terror mais absurdo possível. Krasiski foi na escola de Spielberg e resolveu mostrar o monstro aos poucos, apenas sugerindo a sua presença. Os atores estão formidáveis: Krasisnki, Emily Blunt, que protagoniza uma cena de forte impacto e as 2 crianças: a menina Millicent Simmonds (Surda de verdade, e protagonista de "Sem fôlego", de Todd Haynes, onde interpreta uma surda), e Noah Jupe, o menino fofo de "Extraordinário" e "Suburbicon". O filme lembra o recente "Ao cair da noite", com Joel Edgerton, só que aqui, o filme investe bastante nas cenas de acao, enquanto o outro ficou mais na atmosfera. Imperdível!

A montanha dos canibais

"La montagna del dio cannibale ", de Sergio Martino (1978) Um verdadeiro clássico do Cinema exploitation italiano dos anos 70, que já rendeu obras-primas do gênero como "Canibal Holocausto" e "Canibal Ferox". Só que aqui, além da violência gore e das cenas reais de mortes de animais, acrescenta-se a nudez total de Ursula Andress, a primeira Bond girl do Cinema, e cenas explícitas de sexo, incluindo uma masturbação e uma cena bizarra onde um canibal trepa com um porco gigante. Obviamente, esse não é um filme para qualquer um. Cinéfilos que curtem um Filme trash repleto de cenas mal feitas e muita tosquice, irão vibrar aqui. Ainda mais quando o filme é uma espécie de Indiana Jones dos pobres. Dois irmãos, Susan (Andress) e Arthur, seguem para Londres para tentar descobrir o paradeiro do marido de Susan, um explorador que desapareceu em Nova Guiné. O governo se recusa a ajudar, com o argumento que o marido de Susan explorou terras inóspitas. Os 2 resolvem seguir sozinhos, acompanhados de um explorador que deseja reencontrar seu pai que desapareceu há anos. Eles acabam chegando em uma Ilha onde uma tribo canibal está doida para devorá-los. Cult até a última medula, com Ursula Andress em cenas inacreditáveis ( or ex, ela enrolada em uma gigantesca sucuri real, ou sendo lambuzada por duas canibais safadas). Tem até um canibal anão! eu me diverti bastante, e quem aprecia esse gênero, não deve perder de forma alguma!

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Eu amo vocês dois

"I love you both", de Doug Archibald (2016) O Ator, roteirista, Cineasta e produtor americano Doug Archibald claramente queria ser o Xavier Dolan americano. Junto de sua irmã Kristiin Archibald, eles escreveram a história de 2 irmãos gêmeos que são unha e carne, que se apaixonam pelo mesmo rapaz, Andy, que é bissexual. essa mesma história foi contada no ótimo "Amores imaginários", de Dolan. As mesmas cores, fortes, a estilização, o olhar rebelde sobre o mundo que os rodeia. Donny (Doug Archibald) é um jovem músico, que sonha em fazer turnês, mas o máximo que consegue para sobreviver é dar aulas de piano para crianças. Sua irmã, Krystal (Kristin), trabalha em uma empresa de softwares e está triste pelo fim do namoro com Scott. Quando Andy entra em suas vidas os irmãos passam a competir por algo pela primeira vez na vida. O filme é até simpático, mas o Diretor Doug não tem mão para a comédia, e o Ator não tem talento para segurar o protagonismo de um filme. Falta-lhe carisma. Com um outro ator, o filme poderia ter tido mais possibilidades. eles inclusive escalaram a própria mãe para interpretar a...mãe deles no filme! Faltou mais ritmo e mais delicadeza no filme. Talvez pela falta de experiência e pelo olho grande de Doug em querer fazer de tudo. No próximo provavelmente ele virá com mais firmeza. Essa é a maldição do jovem ator que quer ser auto-dependente e fazer de tudo no seu projeto. Mas precisa ter dscernimento que no primeiro trabalho, é melhor focar em apenas uma função, para não se atropelar.

Parting glances: Olhares de despedida

"Parting glances", de Bill Sherwood (1986) Cult do Cinema independente americano Lgbts, "Olhares de despedida" é considerado o 1o filme a tratar do tema da Aids, em pleno auge do surgimento do vírus. Rodado em 1984, o filme foi lançado em 186, 3 anos antes de "Meu querido companheiro", considerado o grande filme sobre portadores de Hiv e suas consequências. O cineasta e roteirista Bill Sherwood viria a falecer da doença em 1990. O filme é um retrato dramático e `as vezes humorado de jovens cidadoas nova iorquinos: gays, bissexuais, simpatizantes. O casal gay Michael e Robert moram juntos e aparentemente felizes. No entanto, Michael foi transferido para passar 2 anos na Africa. O filme acompanha 2 dias na vida do casal, e as suas relações com amigos e com Nick, ex-namorado de Robert. Nick (interpretado por um jovem Steve Buscemi), é soropositivo, e acredita que irá morrer em breve. Robert ainda sente carinho por ele, o que provoca ciúmes em Michael. O filme tem um roteiro simples, que privilegia pequenos fatos na vida das pessoas. Rodado de forma totalmente independente, o que significa falhas técnicas na fotografia e edição, o filme ganhou um prêmio especial no Festival de Sundance. Para quem curte um cinema naturalista como o de John Cassavettes, vai curtir bastante esse filme, que se dá ao direito de brincar com o lúdico e a magia e algumas cenas principalmente, as de devaneios de Nick. Um grande documento histórico de uma época, é um filme importante, mesmo que não seja brilhante em sua execução. Trilha sonora ao som de Jimmy Sommerville, na época, do duo "Bronski Beat".

terça-feira, 3 de abril de 2018

Game over, man!

"Game over, man!", de Kyle Newacheck (2018) Comédia de ação muito tosca, que parodia "Duro de matar". O roteiro, os 3 protagonistas, longe de serem engraçados, a falta de ritmo, as piadas chulas ( um exemplo: cortar o pau de alguém e depois esse mesmo pau ser usado como arma 1 hora depois)...o pior, é que um filme desses deveria ser voltado para o público adolescente, mas a extrema violência das cenas (mesmo que em tom de humor negro) e os closes em penis o tornam proibitivo. 3 amigos trabalham como camareiros em um Hotel de luxo, aonde acontecerá uma convenção na noite. O homenageado é um bilionário metido `a besta. Os amigos conseguem chegar no ricaço e lhe pedem uma ajuda financeira para que eles lancem um video game. Mas um grupo terrorista invade o hotel para sequestrar o homem, e resta aos 3 amigos salvarem a todos os reféns. Incrível como a Netflix tem realizado filmes com tão baixa qualidade. Esse aqui só serve para quem quer assistir algo bem ruim, por total falta de opção.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

A fabulosa história do Cinema gay

"Fabulous! The Story of Queer Cinema", de Lisa Ades e Lesli Klainberg (2006) Documentário sobre o Cinema de temática Lgbts nos Estados Unidos, desde sua aparição no início do século XX até o ano de 2006, quando surgiu o grande sucesso "O segredo de Brokeback Mountain". O filme, de 80 minutos, faz um resumo sobre a "saída do armário" dos filmes voltados para o público gay. O primeiro filme retratado é "Fireworks", de Kenneth Anger, de 1947, lançado numa época onde o Código de censura nos Estados Unidos estava em plena atividade, proibindo filmes de temática homossexual. Os filmes geralmente eram experimentais. Nos anos 60 vieram os filmes lésbicos voltados para o público masculino, depois Hollywood tentou lançar filmes para o público gay, como "Fazendo amor". mas a comunidade esnobou o filme, pois os atores principais eram heteros. O filme é excelente como base para entender como o cinema independente dos anos 90 foi fundamental para o surgimento do que se chamou de "New queer cinema", através dos filmes de Todd Haynes, Gus Van Sant, Angela Robinson, etc. O filme traz ótimos depoimentos de cineastas, atores, roteiristas, sobre como eles ajudaram a impulsionar os filmes. Fala também da dificuldade de mercado, do preconceito da comunidade com atores heteros que interpretam gays, o estereótipo. Na reta final, essa mesma turma reclama dos atores heteros que querem interpretar gays porque geralmente ganham prêmios, quando nos anos 70 e 80 eles recusavam interpretar , achando que iria queimar o filme deles. https://www.youtube.com/watch?v=beo4I6DmuuY

domingo, 1 de abril de 2018

Jogador no 01

"Ready player one", de Steven Spielberg (2018) Baseado no livro de Ernest Cline, que também escreveu o roteiro, "Jogador No 01" é um Spielberg que a gente sempre amou assistir desde crianças. Aventura escapista, repleta de ótimos efeitos especiais, personagens carismáticos e como todo bom filme, a gente torce bastante por eles. Não li o livro, e fico curioso se todas as referencias de múcia pop dos anos 70 e 80 ( A-Ha, Tears for Fears, Van Halen, New Order, Bee Gees, etc) e de filmes (Boneco assassino, O Iluminado, "Os fantasmas se divertem, Jurassic Park, King Kong, etc) estão na escrita, ou se foram ideia de Spielberg. A sequencia que homenageia "O iluminado", particularmente, é uma obra-prima de realização. Que idéia extraordinária!!! O elenco todo está maravilhoso: Tye Sheridan, Mark Rylance, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn, Lena Waithe, Simon Pegg, etc, não tem um Ator desperdiçado! Pipoca da melhor qualidade, com ritmo frenético do início ao fim, uma festa para cinéfilos. Efeitos de alta qualidade. Para a galera que redescobriu o vintage dos anos 70 e 80 através do seriado "Stranger things", o filme será uma festa! A mensagem do filme é de certa forma bastante ingênua, mas o filme entretém tanto que a gente nem liga pra xaropada final.

Uma dobra no tempo

'A wrinkle in time", de Ava Duverney (2018) A cineasta Ava Duverney, abraçada pelos críticos mundo afora por conta do documentário "13th" e do drama "Selma", sobre a marcha de Martin Luther King, agora experimenta o gosto do fracasso. Sua fantasia, "A dobra do tempo", baseada no livro de Madeleine L'Engle, é um grande equívoco. Atores de calibre como Chris Pine e Reese Winterspoon, estão aquém de suas possibilidades. Reese ainda se esconde atrás de uma pavorosa caracterização, mesma coisa Oprah Winfrey e Mindy Kaling. Os figurinos, penteados e maquiagem das 3 senhoras da Luz, são das cosias mais pavorosas que vi em muito tempo. O da Oprah, ganha fácil a pior de todos os tempos, incluindo a horrorosa peruca loira. E mais: Porque Oprah precisa ser um Ser gigante? Megalomania? A história lembra bastante "A história sem fim", adicionando elementos de física quântica e viagem ao tempo. Meg é uma menina que mora com sua mãe e seu irmão caçula. Seu pai, um cientista (Chris Pine), desapareceu há 4 anos sem deixar vestígios. Na escola, os irmãos sofrem bullying, pois os outros alunos acham que o pai fugiu com uma amante. Um dia, 3 mulheres misteriosas convidam Meg e seu irmão para uma viagem para uma outra dimensão, com a chance de poder encontrar o paradeiro do pai de Meg. O roteiro e os diálogos do filme são muito fracos e repletos de frases de efeito e construtivas. Não entendo porque o pai e o peguete de Meg são brancos. Também não entendo porque Oprah usa peruca loira. Ava, militante ferrenha do movimento de consciência negra, não poderia ter deixado isso passar em branco. O filme não emociona, e pior, fica um híbrido sem liga de um drama realista sobre uma família desestruturada pela ausência do pai, e uma fantasia que nunca provoca qualquer tipo de encantamento. A Disney deveria ter lançado esse filme direto em dvd ou em streaming. Ou quem sabe, ter vendido pra Netflix, que ultimamente tem investido em compras de filmes fadados ao fracasso.

Nunca estará sozinho

"Nunca vas a estar solo", de Alex Anwandter (2016) Filme chileno premiado com o Teddy no Festival de Berlin ( destinado a filmes com temática Lgbts). O cineasta Alex Anwandter estréia no cinema escrevendo, dirigindo, produzindo e compondo a trilha sonora. Famoso como cantor de eletropop, ele comanda uma história sobre homofobia, baseado no caso real do jovem Daniel Zamudio, assassinado por um grupo de neo-nazistas em Santiago, no ano de 2012. Pablo mora com seu pai, Juan (Sergio Hernández, de "Gloria"). Juan trabalha como gerente de uma fábrica de manequins e deseja abrir seu próprio negócio. Pablo trabalha de noite como drag queen em boites. Pablo namora Felix, um garoto que faz parte de um grupo neo-nazistas. Um dia, Pablo é atacado na rua, e ao pedir ajuda para Felix, esse lhe desfere um golpe violento, temendo que seus amigos descubram que ele tem caso com Pablo. Pablo entra em coma, e Juan se endivida para pagar os custos do hospital e das cirurgias. Ele procura por justiça, mas a dura realidade o impedirá de alcançar seus objetivos. Denso e dramático, esse filme é uma porrada. O filme não faz concessões. A cena do ataque é bem violenta e angustiante. Sergio Hernandez está excelente, em sua via crucis por justiça. Não esperem um "Desejo de matar". O filme incomoda por conta da fragilidade da justiça, que nada faz para sair do lugar, e apresenta o cidadão inerte, de mãos atadas. As cenas de sexo são ousadas e frias. Andrew Bargsted, no papel de Pablo, também está ótimo. A primeira metade do filme é com ele, e a 2a , acompanhamos o seu pai. Filme não recomendado para pessoas sensíveis.